quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Hoje sinto-me assim... parte 5

Got a brand new roof above my head
All the empty boxes thrown away
I rearranged the place a hundred times today
But the ordering of objects couldn't hide what's missing

All these things, should make me happy
Make me happy to be home again
All these things, should make me happy
Make me happy to be alone again

Got myself a bottle of red wine
Got a night with nothing else to do
I think I might know what I really want
But is a brighter discontent the best that I can hope to find

Got a big black television set
Now I can watch just what I want
But I'm here staring up at pictures on the wall
Where are you, you're still stuck inside 'em all

All these things, should make me happy
Make me happy to be home again
All these things, should make me happy
Make me happy to be alone again

But love is not these belongings and surroundings
Though there's meaning in the memories they hold
A breaking heart in an empty apartment
Was the loudest sound I ever heard

Got a desk, I'll write myself a note
Pretending that it came from you
On hotel stationary, from the time we first met
Whatever I can do, 'cause I won't throw my hands up yet

All these things, should make me happy
Make me happy to be home again
All these things, should make me happy
Make me happy to be alone again

But love is not these belongings that surround you
Though there's meaning in the memories they hold
A breaking heart in an empty apartment
Was the loudest sound I never heard

But I'll be fine if I don't look around me that much for what's gone
If only I could wait here just a little while and let time pass in my room


"Brighter Discontent"
Lyrics by The Submarines



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segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Soubesse eu falar...


"Soubesse eu falar, dir-te-ia para respeitares o meu silêncio. Por certo, as inúmeras vezes em que exigiste que me calasse, surgem-te agora em fragmentos desbotados como num filme de má qualidade.

Soubesse eu falar, pedir-te-ia que esquecesses o som da minha voz. Que as coisas boas e más que te disse fiquem para sempre perdidas num pedaço de memória sem acesso.

Soubesse eu falar, gritaria a minha raiva pelo teu desprezo e como isso minou a minha capacidade de sentir. O teu olhar inquietava-me mesmo quando fingias indiferença. As migalhas que me ofereceste, comi-as todas. Empanturrei-me de ti. Agradeci pelo teu lado bom e abracei o lado mau.

Soubesse eu falar, choraria por aquilo que perdemos quando decidimos que éramos adultos demais para viver apaixonados. Fomos cobardes. Deitámos tudo fora e ainda hoje o fazemos. Tivemos tudo mas não bastou. Sempre quisemos demais. Quando a tristeza nos invadiu, pedimos felicidade. Quando roçámos a felicidade, chamámos a nós a tristeza. Nunca soubemos viver de outra maneira.

Soubesse eu falar, mostrar-te-ia o quanto mudei e o quanto deixaste de ti em mim. Querias-me adulta. Para ti envelheci, enterrei os sonhos de infância e cultivei o sofrimento que me traria maturidade.

Soubesse eu falar, perguntar-te-ia se alguma vez sentiste por mim mais do que luxúria disfarçada de carência. E o que sentes agora quando me pedes que olhe para o passado e o reviva? Sempre confessei demais e tu de menos.

Soubesse eu falar e verias que bastou-me morrer uma vez para provar o veneno do vazio e da incerteza. Começámos mal, só podíamos acabar mal. Mesmo contra a minha vontade, o fim surgiu por entre as nuvens com a mensagem do nosso próprio enfado. Aquilo que fizeste nascer em mim levaste-o contigo no dia em que partiste, junto com tudo o que parecia inseparável e imortal.

Soubesse eu falar e saberias como sofro com saudades. Não de ti. De mim. Saudades de quem fui, dos sonhos de que me alimentei e dos castelos construídos sobre fundações de areia seca e solta nos quais vivi. Sempre soube que dos dois só eu arriscava, mas não me importava. Aquilo que sentia dava-me forças para seguir em frente, fosse qual fosse o caminho.

Soubesse eu falar e terias a certeza de que hoje pouco ou nada significas para mim. O que está morto já não volta. Ainda bem. Se tenho de arriscar de novo o amor escondido aqui dentro, prefiro que seja com outro. De ti já conheço tudo. E já não gosto de nada.

Soubesse eu falar, procurar-te-ia e acabaria com isto de vez. Dir-te-ia as mentiras que ensaiei durante estes anos em frente ao espelho. Mas hoje surpreendo-me. O "eu não te amo", o "vive a tua vida" e o "sê feliz" decorados exaustivamente, cresceram em mim. Os anos fizeram o seu serviço. As coisas que vivi e as pessoas que entraram na minha vida tornaram essas mentiras verdadeiras. A ficção tornou-se realidade absoluta. Eu não te amo... Vive a tua vida... Sê feliz...

Soubesse eu falar e despedir-me-ia de ti para sempre com a certeza da tua felicidade futura... Soubesse eu falar e não precisaria de escrever para te arrancar de vez de debaixo da pele... Soubesse eu falar e renasceriam em mim todas as vozes do mundo..."

terça-feira, 27 de novembro de 2007

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Sonoridades... (3)

Adquiri há umas semanitas um daquele cds que por tanto o procurarmos sem sucesso, é automaticamente elevado à categoria de relíquia quando é finalmente encontrado. A banda sonora de Death Proof é um desses cds. Para quem, como eu, viu e delirou com a mais recente aventura “tarantinesca”, deve certamente compreender o que significa ter à sua disposição a sua banda sonora. Arrisco-me a dizer que estamos perante a melhor banda sonora alguma vez organizada por Tarantino, o que é dizer muito considerando as de Kill Bill e claro, Pulp Fiction. Pois é… quando se pensa que já não pode fazer melhor, ele faz. Neste caso, desenterrou umas quantas músicas dos anos 60 e 70, algumas das quais praticamente desconhecidas e injectou-lhes a coolness que mereciam. Lol!
Foi difícil escolher, mas deixo-vos aqui uma pequena amostra…



Staggolee - Pacific Gas & Electric



Jeepster - T Rex



The Love You Save (May Be Your Own) - Joe Tex



Down in Mexico - The Coasters



Hold Tight - Dave Dee, Dozy, Beaky, Mick & Tich

… e agora digam lá que não dá uma imensa vontade de pôr as colunas no máximo e partir numa road trip sem destino... hehe :)

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Quase

Um pouco mais de sol - eu era brasa,
Um pouco mais de azul - eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...

Assombro ou paz? Em vão... Tudo esvaído
Num grande mar enganador de espuma;
E o grande sonho despertado em bruma,
O grande sonho - ó dor! - quase vivido...

Quase o amor, quase o triunfo e a chama,
Quase o princípio e o fim - quase a expansão...
Mas na minhalma tudo se derrama...
Entanto nada foi só ilusão!

De tudo houve um começo ... e tudo errou...
- Ai a dor de ser - quase, dor sem fim...
Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,
Asa que se elançou mas não voou...

Momentos de alma que desbaratei...
Templos aonde nunca pus um altar...
Rios que perdi sem os levar ao mar...
Ânsias que foram mas que não fixei...

Se me vagueio, encontro só indícios...
Ogivas para o sol - vejo-as cerradas;
E mãos de herói, sem fé, acobardadas,
Puseram grades sobre os precipícios...

Num ímpeto difuso de quebranto,
Tudo encetei e nada possuí...
Hoje, de mim, só resta o desencanto
Das coisas que beijei mas não vivi...

Um pouco mais de sol - e fora brasa,
Um pouco mais de azul - e fora além.
Para atingir faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...


Mário de Sá-Carneiro

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Desejos vencidos


Olho em volta e procuro encontrar um sentido. Tornei-me analítica. Deixei de confiar. Infelizmente não consigo transformar-me na pedra que inibiria o sofrimento. Não sou imune a nada. Tudo me toca e fere. Apesar de tudo acho que continuo a mesma em alguns aspectos. Quem me conquista, é para a vida, mesmo que saiba que tudo acabará num dia como outro qualquer. Sem floreados. Sem pôr-do-sol. Apenas o fim. O adeus nunca dito e o virar de costas. Relacionamentos que se perdem no vazio das incertezas. O que é que leva alguns de nós a desistir sem tentar? Será medo de perder ou de alcançar? Talvez enquanto nos for permitido pelos outros viver em ponto morto, acreditemos que é legítimo sofrer.

Auto-preservação ou sabotagem pura? Coragem ou cobardia? Acho que já fui assim. Já vivi o medo de me deparar com a concretização de um desejo e ser confrontada com a certeza de que escolhi mal. Hoje em dia acredito ser diferente. Acordei. Sei que nem sempre aquilo que desejamos com todas as nossas forças e pelo qual lutamos nos irá fazer feliz. Talvez esteja enganada, mas acredito que as desilusões e sofrimento que daí advém tornaram-me mais forte. Não quer isto dizer que seja melhor pessoa. Provavelmente não o sou. Sempre fui autêntica, no que isso tem de bom e de mau, mas a minha sinceridade e realismo nunca foram meus amigos. Mas enquanto antes me punia por isso, hoje aprendi a viver assim. Quem não gosta que ponha na borda do prato. Prefiro isso a cinismos calculados, mesmo que a dor da rejeição seja insuportável.

Gosto de pessoas pouco convencionais, daquelas que têm a força para defender os seus ideais e estilos de vida por mais estúpidos que pareçam. Não me entendam mal. Não suporto pessoas arrogantes e intransigentes que pretendem doutrinar os seus pensamentos e rejeitam por inteiro opiniões diferentes. Em suma, gosto do produto genuíno. Sem artificialidades. Sem papel de embrulho. Estou cansada do politicamente correcto. Conversas vazias e requentadas e opiniões copiadas a papel vegetal. Frases feitas e comportamentos estudados aborrecem-me. Medos alheios camuflados com chavões e moralismos em prestações.

Porque será que a maioria das pessoas tem tanto medo de admitir que tem medo? Será sinal de doença admitir essa “fraqueza”? Oportunidades perdidas vezes e vezes sem conta por medos que se atiram para entre as linhas. Especialmente no que diz respeito a relações pessoais. Acho que todos podemos olhar para trás e perguntarmo-nos que tipo de relação teríamos hoje em dia com uma determinada pessoa do nosso passado se as escolhas tivessem sido diferentes. As nossas. As dos outros. No pouco que vivi, sempre fui aquela que lutou por alcançar e/ou manter determinadas coisas. Custa-me desistir das pessoas de quem gosto. Mesmo em carne viva não consigo dar-me por vencida nem que me encontre por terra sem nenhum caminho em redor. Assim sendo, detesto que o façam por mim com pretensões ilusórias de que sabem como me sinto e o que devo fazer a seguir. Talvez seja mesmo mais fácil virarmos as costas àquilo que queremos. É confortável arranjarmos desculpas para nem sequer tentarmos. Abandonos ou traições feitos por altruísmo não existem.

Vidas que se poderiam ter cruzado alegremente. Vidas que se cruzaram e separaram sem necessidade. Pólos negativos criando carga positiva. Custa-me a incerteza. Custa-me não saber as razões verdadeiras por detrás de actos estranhos e sem sentido. Uma pergunta apenas… porquê?

As pessoas traem-nos, abandonam-nos, destroem-nos. É um facto consumado. Já todos o experimentámos numa qualquer altura das nossas vidas. Mas cada vez mais a dúvida assola-me. Abandonam-nos porque não gostam de nós e nos querem à distância? Ou pelo contrário, têm antes medo do quanto poderão vir a gostar de nós? Talvez prefiram não querer ou precisar de alguém do que entregar os seus sentimentos a outro ser humano. Eu já não sei nada. Vejo a mesma história repetir-se desde cedo. Odeio o talvez. Prefiro o sim e o não directos. “E se…” é a pior frase que se pode construir ao longo da vida. Mesmo com todos os meus defeitos eu poderia ter sido a melhor coisa na tua vida, mas sempre preferiste percorrer o caminho mais percorrido, o da derrota precoce.

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

terça-feira, 16 de outubro de 2007

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Momentos...


“A calma acabou. Foi curta e precária. Deixou-me entregue às garras de uma tristeza e melancolia que não sei combater. Não era assim. Perdi-me. Separei-me de mim e a luz dos sonhos apagou-se para sempre.

A doce tortura da ilusão é a única coisa que me sustenta. Entrego-me a momentos que sei não passarem de fantasias. A minha vida inteira foi assim. Imaginar o impossível. Amar quem não quer ou não pode corresponder. Traí-me. Decidi ignorar a voz que me alertava sempre que entrava no teu jogo. Deixei-me levar por olhares intensos e frases com duplos sentidos. Alimentei o teu flirt cada vez mais provocador. As insinuações mantinham-me viva. Bastou-te pedir e fui tua. O inocente brinquedo com o qual te permitias esquecer a vida pequena e arrumadinha que te obrigam a viver. Comigo voltaste a ter 20 anos e a estar longe de todas as responsabilidades que os anos te ofereceram. Esqueceste-te que por detrás deste corpo que conheceste tão bem sempre existiu um ser humano. Existe uma mulher. Jovem mas não menos mulher por isso. Uma mulher que não te queria partilhar… uma mulher que só te pediu uma coisa… a única que te era proibida dar… Amar-me não fazia parte dos teus planos. Que tolice a minha! Nunca ninguém o fez antes, porque haverias de ser diferente? És igual aos outros. És um cliché ambulante com sentimentos padronizados e pensamentos remastigados. Sou demais para ti. Assusto-te. Ainda bem.

Especializei-me em olhar para paredes e tectos. O olhar prende-se em pontos específicos que mais tarde não sei identificar. Só pestanejo quando as lágrimas me pesam nos olhos. Nas paredes brancas da minha casa vejo imagens de uma vida que não terei. Uma vida em que o prazer das pequenas coisas me devolve a felicidade perdida. Tento olhar em frente, mas não vejo nada. Talvez seja por isso que sou incapaz de fazer planos para o futuro… que futuro?

Estou cansada. Cansada… cansada de sonhar com tudo e não ter nada… Quando me dizem: “Tu és um diamante que ainda ninguém descobriu”, dá-me vontade de gritar. Eu não quero ser o diamante escondido numa gaveta para sempre, quero ser a bugiganga da qual jamais nos separamos e que amamos mais do que qualquer jóia verdadeira.

Cada olhar, cada gesto de ternura, cada sensação que me foi oferecida e depois roubada, foi-me deixando vazia. Estou oca de tudo menos do amor que temo não oferecer a mais ninguém. Se ninguém o quer, que morra comigo. Já não me interessa.

Apetece-me rasgar todas as fotografias, mas só as minhas. Odeio ver-me sorrir como se o mundo permanecesse dourado. As fotos de infância… essas têm o condão de me sufocarem. Aquela não sou eu e de cada vez que olho para essas imagens, pergunto-me o quanto me terei desviado do caminho…

Sento-me para escrever mas nada sai. A dor desliga-me o cérebro e paralisa-me os dedos. Curioso. Sempre ouvi dizer que é quando o sofrimento é maior que escrevemos melhor. Mas nada sai. Lembro-me do primeiro rapaz que beijei e nunca mais vi. Mas nada sai. Lembro-me das inúmeras brigas que tive com o meu primo. Mas nada sai. Lembro-me de quando parti a cabeça e levei pontos a sangue frio. Mas nada sai. Lembro-me do meu primeiro amor e do dia em que pediu para falarmos a sós… para me pedir que o ajudasse a conquistar a minha melhor amiga. Mas nada sai. Lembro-me da morte da minha avó e da última vez que a vi. Mas nada sai. Lembro-me da última vez que julguei estar apaixonada e do quanto escolhi mal. Mas nada sai. Lembro-me dos dolorosos anos de faculdade e dos pedaços de alma que me roubaram. Mas nada sai. Lembro-me de todas as oportunidades que perdi. Mas nada sai. Lembro-me de ti. E nada sai. Nada nunca sai. Tudo é murmúrio e confusão. Certezas de coisa alguma. Apenas pequenos fragmentos de luz que assim que os tento agarrar se afastam de mim, deixando-me numa escuridão que só eu vejo. Tenho medo de me entregar a isto para sempre. Tenho medo de deixar de distinguir a luz da escuridão. A amizade da falsidade. O amor da pena. A felicidade da dor.

Mas tal como o vento que sopra a cada dia de uma nova direcção, quem sabe a minha calma regresse amanhã… até novo dia.”

terça-feira, 25 de setembro de 2007

Hoje sinto-me assim... parte 4

I’m ‘round the corner from anything that’s real
I’m across the road from hope
I’m under a bridge in a rip tide
That’s taken everything I call my own

One step closer to knowing
One step closer to knowing

I’m on an island at a busy intersection
I can’t go forward, I can’t turn back
Can’t see the future
It’s getting away from me
I just watch the tail lights glowing

One step closer to knowing
One step closer to knowing
One step closer to knowing
Knowing, knowing

I’m hanging out to dry
With my old clothes
Finger still red with the prick of an old rose
Well the heart that hurts
Is a heart that beats
Can you hear the drummer slowing

One step closer to knowing
One step closer to knowing
One step closer to knowing
To knowing, to knowing, to knowing




"One Step Closer"
Lyrics by Bono

sábado, 15 de setembro de 2007

Solidão... pedaço eterno de mim


Solidão… pedaço de mim que vagueias por entre os caminhos da vida. Procuro perder-te numa qualquer curva apertada, mas surges sempre perto de mim, mostrando-me que sem ti não posso viver. Tento esquecer que estás presente em cada parte de mim, como um cancro que vai destruindo o pouco de vida que encontra.

Julgo que não nasci assim, mas até hoje não consigo identificar o momento preciso em que uma peça do puzzle caiu, deixando para sempre este vazio no peito que nada parece conseguir preencher. Sinto esse vazio cravado em mim, reclamando a minha atenção. Buraco negro que se propaga e consome tudo à volta, mas muito lentamente. Há que sentir as suas garras dilacerando a carne muitas e muitas vezes. Engolir a dor e acreditar que será a última vez.

A pele translúcida mostra a casa desarrumada… despojos de uma guerra sem fim onde não há vencedores, apenas vencidos. O coração partiu-se há muito tempo deixando um rasto sujo à sua volta. Os anos e o apoio de umas quantas almas corajosas permitiram-me recuperá-lo… juntar peça por peça e senti-lo voltar a bater. Hoje está inteiro e saudável, mas o medo de o voltar a entregar cresce de dia para dia. Receio que nova rejeição o desfaça em pó… cinza que o vento leve e espalhe por lugares a que nunca pertenci.

Olho em volta e não vejo nada. Sigo cega por um caminho que não escolhi e não conheço. Quero acreditar que em algum momento alguém me dará a mão e me ensinará a caminhar por entre a bruma… mas a espera é vã e o vazio continua… vergonha em mim que me sufoca… pecado em mim que me aniquila…

Sinto-me presa atrás de uma muralha que surgiu sem que desse conta. Não a fortifico e tento quebrá-la, mas ela permanece… invisível mas intransponível, como a fronteira para um país desconhecido… O eu que todos conhecem caminha lá fora, perdida e sem rumo mas camuflada por todos os outros que não a vêem… O eu verdadeiro permanece escondido esperando que alguém alcance o impossível e ultrapasse a muralha… Eu não sou apenas aquela que sorri frequentemente confortando egos magoados, eu sou aquela que chora sem saber porquê e ri às gargalhadas de coisas idiotas e por vezes sem graça. Eu não sou apenas aquela que não é vaidosa por achar a vaidade repugnante, eu sou aquela que não tem vaidade por achar não ter qualquer beleza para evidenciar. Eu não sou apenas aquela que faz rir, eu sou aquela que espera que alguém repare no seu sofrimento e a conforte. Eu não sou apenas aquela que tenta fazer planos para o futuro, eu sou aquela que foge dele sabendo que o atravessará na mais completa solidão. Sou o muito e o pouco. O bom e o mau. O tudo e o nada. Eu sou aquela que escreve este texto esperando que ninguém leia as palavras e simplesmente oiça o grito que ele esconde. Eu sou aquela que procura sem encontrar… Eu sou aquela que perdeu…


“Estou só, horrorosamente só, ó Deus e como sofro. Toda a solidão do mundo entrou dentro de mim. E no entanto, este orgulho triste, inchando – sou o Homem! Do desastre universal, ergo-me enorme e tremendo.”
Vergílio Ferreira
(muito obrigado P ;))

domingo, 9 de setembro de 2007

Para sempre Luciano

2007 tem sido um ano triste para o mundo da arte. Depois de Ingmar Bergman, Michelangelo Antonioni e muitos outros, chega a hora do mundo se despedir do seu melhor tenor, Luciano Pavarotti.

Desde pequena, e mesmo não tendo a capacidade para apreciar música que julgo ter hoje em dia, recordo-me de achar a sua voz absolutamente arrepiante. Uma das minhas primeiras recordações dele, diz respeito a um concerto que vi na RTP, em que se fazia acompanhar de outros dois "monstros", José Carreras e Plácido Domingos. Apesar de ser incontestável o talento destes dois últimos, já naquela altura achava Pavarotti melhor... não só a voz era mais poderosa, como tudo me parecia mais intenso. Enquanto os outros limitavam-se a "despejar" as letras, Pavarotti parecia senti-las como suas.

Pavarotti tinha daquelas vozes que exigiam ser ouvidas ao vivo pelo menos uma vez na vida. Infelizmente nunca o fiz e agora custa-me saber que jamais o farei.

Goste-se de ópera ou não, há que reconhecer que ficámos todos um pouco mais ricos com o talento que nos foi oferecido ao longo dos anos. Ele partiu... nós ficámos... mas a sua voz é imortal... e daqui a alguns anos, quando já todos tivermos desaparecido, alguém estará a descobrir o talento que a morte não conseguiu apagar...


quinta-feira, 30 de agosto de 2007

O Verão das nossas vidas...


"Vejo-te nos pormenores. No sol que me queima a pele. No cheiro da terra acabada de lavrar. No som dos cascos dos cavalos. Na brisa que acaricia os cabelos. No piar dos pássaros na sua alegria de viver por entre as nuvens. Voltei… e tudo me lembra de ti… tudo me recorda de mim… o eu que fui e se perdeu por entre as curvas da vida…

Penso na amizade que nos uniu e no compromisso que nos separou. Todos os verões te encontrava quando passava as férias na casa da minha prima. Não nos demos muito bem de início. Acho que te cheguei a dar uma bofetada numa qualquer altura e tu fizeste de propósito para que eu caísse de um cavalo que fazia questão de montar sozinha e esfolasse um braço. Eras mais velho três anos e por isso consideravas-me uma pirralha. Daquelas que pouco fala e cora por tudo e por nada.

A minha prima achava-se loucamente apaixonada pelo teu irmão e sempre que se encontravam, éramos obrigados a ir também. Ainda hoje não sei bem porquê, uma vez que assim que se encontravam desapareciam da nossa vista. Não sei o que me irritava mais, se ter de servir de vela ou ter de o fazer contigo.

Eras o único rapaz da aldeia que fazia questão de me ignorar. Num meio pequeno, a cara nova da cidade torna-se o centro de qualquer conversa, mesmo que nada faça para cimentar qualquer mistério. Mas sempre que um comentário mais picante me era dirigido, tu olhavas-me como se a culpa fosse minha, como se o simples facto de existir e de me sentar à mesa do café da vila me tornasse numa provocadora.

Ao começo tentei conversar contigo, mas limitavas-te a olhar para mim com um ar extremamente analisador que me irritava, assim, decidi que o melhor a fazer era ignorar-te. Era difícil. Não havia local para onde olhasse onde não estivesses. Fiquei chocada quando trocaste comigo mais do que meras palavras de circunstância. Disseste que eu era pura demais para a parte da minha família que ali vivia. Mandei-te à merda na mesma hora. Discutimos tantas vezes que perdi a conta. Sabíamos pouco de sexo nessa altura, mas nenhum de nós conseguia ignorar a tensão sexual que se ia criando entre nós. É impossível virar as costas à química. Mexíamos um com o outro. O resto era apenas ruído de fundo. Assim, esgotávamos essa tensão da melhor maneira que sabíamos. Preferíamos alimentar a raiva do que rendermo-nos ao que acontecia dentro de nós.

Não sei porquê, as coisas mudaram. Deixaste de ser tão calado e eu deixei de ficar tão atrapalhada na tua presença. A verdade é que às vezes me intimidavas. Aos poucos começámos a partilhar piadas e histórias e a nossa inimizade deu lugar a uma cumplicidade a que ninguém era diferente. Acordaste-me por dentro.

Faltavam duas semanas para as minhas férias acabarem. Em breve teria de te deixar e voltar à cidade. Talvez andasse preocupada com isso ou simplesmente tivesse os meus pensamentos todos perdidos em ti, mas numa tarde em que regressávamos de apanhar canas, ao descer o monte, escorreguei e torci o pé de tal maneira que fiquei uma semana sem conseguir andar. Recordo os meses intensos de tratamentos para conseguir corrigir o que aquela queda destruiu. Mas sempre que penso nisso, só consigo sorrir. Foi aí que nos conhecemos. O que julgávamos saber um do outro era apenas a superfície que permitíamos partilhar com os outros. Alteraste os teus horários e rituais para me fazer companhia naqueles dias de inércia. Sabias que não podia contar com a minha prima em todo o egoísmo do primeiro amor. De início não queria que me viesses visitar com tanta frequência. Deixavas-me nervosa e detestava as insinuações que corriam na boca de todos. Éramos tão novos e mesmo assim as pessoas já imaginam maldade e perversão na nossa relação. Tornámo-nos bons amigos e quando me fui embora doeu-me como se nunca mais te fosse ver. Aos 13 anos tudo nos parece o fim do mundo. Tudo é definitivo e qualquer local que não fique no nosso caminho até à escola parece-nos do outro lado do mundo.

No verão seguinte voltei… o coração batia descompassado e o meu estômago revirava-se em antecipação. Sabia pelas cartas que me tinhas escrito, que me esperavas. Eu estava diferente e tinha receio que, subitamente, conforme cresceu, tudo se desvanecesse. Aos 14 anos eu já tinha o corpo pelo qual a maioria das mulheres tem de esperar até aos 17. E se não gostasses? Sentia-me inimiga das minhas curvas.

Desta vez não perdemos tempo. Assim que nos vimos, puxaste-me pela mão e afastaste-nos do mundo. Se fechar bem os olhos ainda me recordo do nosso primeiro beijo. Rápido e desajeitado contra a parede das traseiras da tua casa enquanto ao longe alguém chamava por ti.

Não nos importávamos com o que pensavam de nós. Recusávamo-nos a olhar para o calendário sabendo que cada dia que passava era um dia a menos. Aprendemos a amar-nos à distância e durante esse tempo foi o que fizemos. Todas as férias, feriados e fins de semana grandes, eu voltava para ti, mas enquanto tu permanecias o mesmo, com as mesmas ambições, eu ia mudando. Sempre me disseste que me querias do teu lado. Não interessa a idade que temos quando sabemos o que queremos, dizias. Mas o filme que fazias na tua cabeça, era escrito, produzido e realizado por ti. Eu limitava-me a interpretar o meu papel. Para ficar contigo, tinha de virar costas a tudo e morar na tua aldeia. Uma mulher apaixonada pela cidade só faz uma mudança dessas por um grande amor. Mas eu nunca te amei assim. Acho que nem foi amor aquilo que alguma vez senti por ti.

A discussão passou a ser a nossa forma de comunicação. Talvez sentíssemos a brisa gelada do fim. Até que um dia, no meio da gritaria me levaste a admitir que não te amava. Nesse momento perdi a batalha. Sabia-te orgulhoso. A partir daquele momento eu morria para ti e mesmo que um dia entendesses o meu ponto de vista e até me perdoasses, preferirias a tua destruição a deixar-me reentrar no teu coração.

Durante os anos que se seguiram deixei de ir à aldeia com tanta frequência. As poucas vezes que lá voltei foram visitas curtas. Nunca nos cruzámos. Soube que casaste de um momento para o outro e que hoje estás divorciado. A última vez que aí fui, há dois anos, disseram-me que tinhas ido trabalhar para Espanha e não tencionavas voltar. É curioso que tenhas abandonado tudo, quando me dizias que eu tinha de ir morar contigo um dia, porque não querias abandonar a tua terra. Só lá eras tu mesmo. E agora, no entanto, tinhas partido… Mas eu sabia que voltarias…

Este ano, sem saber muito bem porquê, decidi regressar. Depois de matar as saudades da família, caminhei por entre as ruas e os campos tão diferentes e, no entanto, tão iguais. E lá estavas tu. Vi-te aproximar e naqueles poucos segundos que nos separavam, pensei em mil e uma formas de começar uma conversa. Há dez anos que não nos víamos ou falávamos. Ainda haveria alguma coisa para dizer? Tentei um sorriso mas mantiveste-te sério, com o mesmo olhar penetrante que anos antes me fazia vibrar por dentro. Estás na mesma. Talvez os braços estejam mais fortes e o cabelo mais claro, queimado pelo sol. De resto, pareces-me o mesmo rapaz que tão bem conheci um dia, apenas os teus olhos denunciam os anos e a dor que acumularam. Sempre soube que um dia terias a coragem de aqui voltar, disseste. Nunca foste muito bom a fazer conversa de chacha. Sempre foste directo e conciso. Talvez por isso as pessoas não gostem tanto de ti como mereces que gostem. Numa só frase anulaste os dez anos que vivemos separados e fizeste-me sentir a mesma miúda de 16 anos que sonhava alto demais. Vê só onde os meus sonhos me levaram! Estou mais perdida agora do que naquela altura. Devias sentir-te vingado.

Dói-me olhar para ti e ver a tua própria dor brilhando no verde dos teus olhos. Nunca fomos um do outro, mas entre nós, durante estes anos, criou-se um enorme “se”… Se não tivesse acabado com as tuas fantasias românticas no meu desmedido desejo de mais e mais. Se tu não fosses tão intolerante e egoísta e tentasses entender a minha posição. Se… Se… O “se” gastou-se com o tempo… já nada sobrou…

Não me arrependo da minha decisão. Éramos dois e eu apenas podia escolher um. Escolhi-me a mim. Não sei se foi a escolha acertada mas foi aquela que me permitiu olhar em frente, mesmo que precariamente. Não te amava então e não te amo agora. Mas tenho pena de saber que mesmo de uma forma pequena e inocente, tenho uma percentagem de culpa e responsabilidade pelo teu sofrimento. Magoa-me na carne ver a vida fabulosa que podias ter tido, transformada em pedaços de coisa nenhuma… apenas ilusões e sonhos esbatidos… Se ao menos esquecesses tudo e seguisses em frente. Talvez um dia o faças e só espero que no teu caminho encontres uma miúda de 16 anos, com o rabo-de-cavalo a abanar ao vento, fazendo balões com a pastilha elástica, os olhos castanhos grandes e expectantes, a boca aberta num sorriso, os calções curtos feitos de umas calças de ganga velhas, o top preto com o símbolo da paz na frente, os ténis cronicamente desatados e as unhas pintadas de cor de rosa, que te estenda a mão e te ame como o rapaz de 19 anos que ainda habita nesse corpo batido e que merece ser amado. Talvez reencontres a miúda que fui e te permitas novamente sonhar."

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Hoje sinto-me assim... parte 3

Every finger in the room
Is pointing at me
I wanna spit in their faces
Then i get afraid what that could bring
I got a bowling ball in my stomach
I got a desert in my mouth
Figures that my courage
Would choose to sell out now

I've been looking for a savior
In these dirty streets
Looking for a savior
Beneath these dirty sheets
I've been raising up my hands
Drive another nail in
Just what God needs
One more victim

Why do we crucify ourselves
Every day I crucify myself
Nothing I do is good enough for you
Crucify myself
Every day I crucify myself
And my heart is sick of being
In chains

Got a kick for a dog
Beggin' for love
I gotta have my suffering
So that I can have my cross
I know a cat named easter
He says will you ever learn
You're just an empty cage girl
If you kill the bird

I've been looking for a savior
In these dirty streets
Looking for a savior
Beneath these dirty sheets
I've been raising up my hands
Drive another nail in
Got enough guilt to start
My own religion

Why do we crucify ourselves
Every day I crucify myself
Nothing I do is good enough for you
Crucify myself
Every day I crucify myself
And my heart is sick of being in chains

Please be
Save me
I cry

Looking for a savior
In these dirty streets
Looking for a savior
Beneath these dirty sheets
I've been raising up my hands
Drive another nail in
Where are those angels
When you need them

Why do we crucify ourselves
Every day I crucify myself
Nothing I do is good enough for you
Crucify myself
Every day I crucify myself
And my heart is sick of being
In chains


"Crucify"
Lyrics by Tori Amos


quarta-feira, 22 de agosto de 2007

18 de Abril


Confesso-me leitora e fã de Sylvia Plath. Ela possuía um fatalismo que acho que combina comigo. Apesar disso não posso afirmar que conheço toda a sua obra, especialmente a de começo de carreira. Assim sendo, foi com alguma surpresa que ao consultar os poemas escritos no final da sua adolescência, deparei-me com um que me esbofeteou, “April 18”. Para quem não sabe, 18 de Abril é o dia do meu aniversário e apesar de saber que é um dia como outro qualquer para o resto do mundo, achei uma daquelas “coincidências” arrepiantes, que uma das minhas poetisas de eleição tenha escrito um poema sobre essa data e que, estranhamente, eu me reveja em cada verso…

“the slime of all my yesterdays
rots in the hollow of my skull

and if my stomach would contract
because of some explicable phenomenon
such as pregnancy or constipation

I would not remember you

or that because of sleep
infrequent as a moon of greencheese
that because of food
nourishing as violet leaves
that because of these

and in a few fatal yards of grass
in a few spaces of sky and treetops

a future was lost yesterday
as easily and irretrievably
as a tennis ball at twilight”

April 18
by Sylvia Plath

sábado, 18 de agosto de 2007

Sonoridades (2)

Hoje ando de rolo na mão, não o da massa mas o da tinta (qual dos dois o pior! :s). Como nunca torço bem o rolo, enquanto vou pintando vou-me salpicando. Neste momento tenho a cara e os braços às pintas, lol. Ainda não cheguei ao meu quarto, só de pensar em toda a tralha que tenho de tirar de lá começo a desfalecer… já sabem, se não aparecer por aqui num futuro próximo, é sinal que entrei em colapso e não recuperei lol.

Mas falando sério por um minuto. Gostaria de agradecer a todos os meus queridos comentadores pelo apoio dado a respeito do post anterior. Vocês são uns amores. Não sabem o que significou para mim. Novamente, muito obrigado.

E como forma de “fugir” um pouco do espírito negro que tem deambulado por entre os meus últimos posts, decidi contagiar-me de boa disposição. Assim, deixo aqui algumas das músicas que conseguem sempre colocar-me um sorriso nos lábios e com vontade de começar aos pulos que nem uma criança. Vamos lá então! Saltem comigo!

Beijinhos a todos :)









quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Enganos


Começo já este post pedindo desculpas por aquilo que aqui vou escrever e as susceptibilidades que possa magoar. Isto é direccionado mas não sei se as pessoas em questão o irão ler. Também pouco me interessa. Preciso de desabafar e não tenho problemas em fazê-lo aqui.

Estou farta de cinismos e hipocrisias. Irrita-me que algumas pessoas sejam tão pequenas de espírito que minem tudo à volta. Autênticos parasitas que se agarram aos outros e não largam, com medo de perderem um qualquer lugar de destaque que imaginam possuir. Sim, vocês mesmos, que eu sei que já aqui vieram coscuvilhar mas não tiveram “tomates” para comentar. Fazê-lo era valorizar-me demais… Lamento informar-vos, mas a tal posição que julgam ter é frágil e ilusória. Quando morrerem, serão iguais a todos os outros, as pessoas terão pena de vocês durante dois minutos e depois continuarão a viver sem mais pensarem em vocês. São todos pó mesmo sem saberem.

Este fim de semana aconteceu-me algo sobre o qual não vou entrar em pormenores, mas que me magoou profundamente. A situação é estúpida e revoltante, mas são as pessoas envolvidas que merecem a minha raiva e o meu nojo.

A venda caiu dos olhos e tudo o que vejo agora são criaturas patéticas que tudo fazem para que alguém repare nelas. Tenho uma novidade. Ninguém gosta de opiniões em segunda mão. Quantas vezes tive de ouvir as minhas opiniões e argumentos a saírem da vossa boca como se fossem vossos? Claro que quem não sabe, julga-vos sensíveis e inteligentes. A verdade é que tudo o que vos sai boca fora é requentado, já alguém o pensou… já alguém o disse… já alguém o escreveu… É triste…

Estou cansada de ser lixada propositadamente. Descobri que raramente a amizade é desinteressada. E eu sou uma vítima perfeita. Infelizmente, tenho a amarga tendência de quando me sinto à vontade com alguém e gosto da sua companhia, desabafar sobre tudo. Não escondo nada. Na minha ignorância, nunca assumo que aquilo que digo ou faço vá ser usado contra mim. Pois…

Chega de intermediários. Chega de mandar recados e combinar coisas através dos outros. É doloroso descobrir que são aqueles que melhor conhecem as nossas fragilidades, que nos isolam propositadamente. Tantas oportunidades perdidas. Pessoas por conhecer. Amizades por cimentar. Experiências a viver. Tudo porque alguém tem medo que as pessoas me conheçam. Quando comecei a desconfiar do que se passava, imaginei que fosse por vergonha, mas agora sei que é precisamente o contrário. É medo. É cobardia. Medo de que eu me dê bem demais com essas pessoas. E depois, onde é que ficam? Certamente deixam de ser tão especiais…

Ao que parece durante estes meses todos, tenho estado doente ou muito ocupada e cheguei a estar fora. É impressionante. Para mim é tudo novidade. Andei por um país qualquer acabado em ândia… hum… já sei, Islândia… pois, devo ter ido visitar a Bjork… Que mal é que eu alguma vez lhes fiz para me fazerem estas merdas? Cambada de falsos. Só espero que um dia se faça luz nos olhos daqueles que tentam enganar.

Sei que nada disto faz muito sentido. Paciência. Precisava de tirar isto de dentro de mim para que não me comesse viva. Não sei se isto atingirá quem deve, mas que se lixe.

Deste modo, vou começar a cortar com os intermediários, deixei de confiar na maioria… e aqui é um bom sítio para começar como qualquer outro… assim, para os meus queridos comentadores e para aqueles que apenas vêm espreitar… se algum dia quiserem falar comigo directamente, seja para combinar alguma coisa ou simplesmente falar sobre o tempo, aqui fica o meu contacto do Messenger,
ursa39@hotmail.com. E para aqueles que apesar de nada terem a ver com esta história, mesmo assim resistiram e leram tudo isto até ao fim, peço-vos, não levem a mal este meu desabafo…

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Depois


"Sento-me à beira-mar, tentando que os raios de sol me devolvam calor à alma. A pele aquece com o passar do tempo, mas cá dentro tudo permanece gelado.

Tentaste ensinar-me de tudo um pouco, menos a amar. Isso aprendi sozinha e como tal, aprendi mal. Não amo com facilidade mas quando o faço é em demasia. Até lá, deixo que o amor que guardo aqui dentro me asfixie em buscar de libertação… Mas ninguém aparece para o reclamar. Assim, aqui vai ficando em doses que me vão destruindo a cada inalação.

Gostaria que estivesses aqui comigo. Não sei sobre o que falaríamos. Provavelmente nada. Passaríamos os escassos minutos tentando decifrar nos olhos um do outro aquilo que os lábios recusam dizer. Há quem comunique mais só com um olhar do que com um monólogo completo. Acho que somos assim… Mas estou aqui sozinha. Como sempre estive e sempre estarei.

Uma gaivota pousa junto a mim. Veio sozinha e não parece intimidada com a minha presença. Será que também veio aqui para reflectir? Fugir de tudo?

Olho para a minha perna ensanguentada. Cada arranhão mostra-me que ainda estou viva. Tive a triste ideia de subir as rochas de chinelos… Gostava que me visses agora. Sempre te queixaste que eu nunca te deixei ver as cicatrizes que carrego comigo. Tenho agora estas? Chegam? As outras, as da alma, aquelas que sempre quiseste que te mostrasse estão tão escondidas que nem eu sei onde estão. Fazem tão parte de mim que as sinto em cada músculo, em cada cabelo, em cada poro...

Penso em ti. Será que pensas em mim? Não sorrias por saber que ainda penso em ti. Foste tudo para mim. Foste o fio de esperança que me libertou das garras da autodestruição, mas hoje és apenas mais um estilhaço que deixo ficar cravado na pele, para que caia sozinho. E hás-de cair. Irás separar-te da minha pele e da minha alma, até nada mais restar de ti do que uma vaga memória que, subitamente, deixou de doer.

Não vou ser hipócrita e altruísta. Não vou desejar-te felicidade eterna. Deixa-me ser humana. Espero que ela te maltrate e te chateie até que duvides da tua escolha. E se, por acaso, te traíres a ti próprio e lhe entregares o teu coração, espero que ela o triture e te o devolva desfeito. Não mereces melhor.

Por enquanto, vou ficando aqui. Tudo me rodeia e no entanto, tudo me parece vazio de vida, até as crianças que correm alegremente na praia em baixo. Tantas promessas em cada olhar, em cada risada. O que lhes trará a vida? Qual delas se sentará neste mesmo local daqui a uns anos, revivendo as suas perdas? Talvez um dia também por aqui caminhes, pensando em tudo o que ganhaste ou perdeste com as escolhas que fizeste. Só tenho pena que para encontrares o teu caminho, tivesses de passar por cima de quem mais queria ajudar-te a alcançá-lo. Pode ser que um dia te veja aqui, carregando dores que desconhecias. Deixa-me ver-te sofrer primeiro. Podes ser feliz depois."

terça-feira, 7 de agosto de 2007

Hoje sinto-me assim... parte 2

There's a heart on the line
And it rests with your eyes
Please don't fade

And please don't cry
'cause it's all white lies

Take a chance watch it fall

Grab too much and lose it all
Now I've lost my disguise

It was all white lies

Stay here, lie with me here

Oh lo-fi, lonely sighs
I will roam lost but never alone

Hide with me, hide

Would it help if I tried

Or has it sailed and passed me by
First love grows and then it dies

And it's all white lies

Stay here, lie with me here

Oh lo-fi, lonely sighs
I will roam lost but never alone

Hide with me, hide with me

Now you move with the tide

And I've heard you've found peace of mind
And I now know
that life's design
Moves around white lies
White lies, white lies, white lies


"White Lies"
Lyrics by Paolo Nutini


terça-feira, 31 de julho de 2007

quarta-feira, 25 de julho de 2007

Fragmentos de nada


“Olhou-se ao espelho. Por momentos pareceu não se reconhecer. Os olhos negros que exibiam uma alegria constante mesmo em momentos maus, fitavam-no agora carregados de uma angústia e solidão que ele não queria ter dentro de si. A barba por fazer aconchegava-lhe o rosto e picava-lhe os dedos. O cabelo despenteado. O seu reflexo era-lhe desconhecido. Queria escapar mas sabia não ser capaz. Desejava esquecer mas não conseguia.

Sentia a raiva e o ódio apoderarem-se de cada músculo seu. Ela continuava ali, debaixo da pele. A picada incessante que não se consegue aliviar. A comichão logo onde o braço não chega. Já tinha sido magoado antes e ele próprio já tinha feito as suas vítimas. Mas isto era novo. Apaixonara-se perdidamente aos 18 anos. Tudo o que viveu foi intenso e marcante, mas o fogo extinguiu-se. Tal como começou, acabou. Passou a acreditar que dali em diante estaria salvo dos meandros do coração humano.

Durante anos, muitas mulheres se seguiram, mais do que as que gostaria de lembrar. Na maioria das vezes procurava apenas um momentâneo conforto físico. Alguém que lhe suavizasse as dores da sua alma. Outras vezes desejava apaixonar-se novamente, mas ao longo dos anos foi-se convencendo de que não era capaz. Ou simplesmente já não o sabia fazer. Talvez devesse ter valorizado aquele que julgava ter sido o seu único amor.

Até que ela surgiu. Num dia como qualquer outro cruzaram-se no supermercado. Só a tinha visto uma vez, sabia que tinha acabado de alugar o apartamento do 5º andar. Não lhe tinha prestado muita atenção e naquele momento em que a observava a escolher uma garrafa de vinho com um ar perdido, compreendeu porquê. Ela não fazia o seu tipo. Era o tipo de mulher para quem não olharia duas vezes. Era tão alta como ele, com um corpo cheio de curvas e os longos cabelos pretos amarrados num descuidado rabo-de-cavalo. Ele gostava delas com um compleição mais frágil, faziam-se sentir-se forte. Ofereciam-lhe a ilusão de ser adorado e até, quem sabe, amado. O eterno protector. Mulheres como ela faziam-no querer afastar-se. Pareciam não precisar de provar nada a ninguém, nem esperar nada de alguém. Ou não tinham qualquer vaidade, ou sabiam bem demais o poder que tinham e não necessitavam de o evidenciar.

Durante os meses que se seguiram o contacto tornou-se inevitável. Saíam ao mesmo tempo para o trabalho e sentiam-se obrigados a cumprimentarem-se. Os cumprimentos deram origem a conversas. Das conversas nasceram convites para jantar. Os jantares abriram caminho à amizade. Também ela se achava incapaz de voltar a amar, tinha sido traída e o amargo gosto do abandono tinha-lhe roubado a parte do coração capaz de sentir.

Sem que nenhum dos dois o compreendesse, a atracção tão pouco provável de início, foi crescendo, mesmo por entre os defeitos que faziam questão de apontar um ao outro. Ele era arrogante e convencido. Ela era fatalista e malcriada.

A sua imagem no espelho ia ficando desfocada. Precisava de comer qualquer coisa. Mas antes precisava de aniquilar qualquer vestígio dela. O seu calor ainda lhe percorria as veias. O sabor dos seus beijos ainda lhe invadia a boca. Bastava-lhe fechar os olhos para se recordar de cada sensação, de cada toque, de cada curva. Durante meses alimentaram-se um do outro, encontrando conforto para os seus corações vazios. Mas já não havia nada que o saciasse… apenas ela…

Odiava-a. Mulheres como ela tinham o poder de destruir um homem. Ela era a pior das mulheres. Pela calada das noites de amor e dos dias de cumplicidade, roubou-lhe a única coisa verdadeiramente sua, o seu coração. O tal que jamais bateria por outra mulher e agora se entregava a uma como nunca o havia feito na vida. De modo descomprometido e suave, obrigou-o a apaixonar-se por ela. Mas por cada batida do seu coração, o dela desligava-se mais um pouco, até ao dia em que deixou de bater para ele. Conforme entrou, assim saiu da sua vida, sem uma explicação, sem um raio de esperança.

Rasgou os lençóis. Tudo o que lhe lembrava ela, tinha de desaparecer. Algumas peças de roupa que ainda mantinham o seu cheiro. Os óculos de sol esquecidos em cima da mesa. Dentro da gaveta, um frasco de verniz preto. Os livros que lhe ofereceu. Os retratos dele que desenhou. O creme. Os sapatos. Uma meia perdida numa cadeira. O seu riso gravado numa mensagem de telemóvel. Via agora que se tinha habituado a tudo nela, principalmente às pequenas coisas. Até as paredes do seu pequeno apartamento pareciam mais bonitas e aconchegantes do que as suas. Sentia saudades daquela decoração em que nada combinava com nada mas tudo combinava com ela. Cada memória, cada momento a dois tinha de ser apagado para sempre. Talvez ao empacotar as suas coisas a conseguisse separar de si. Talvez ela simplesmente se evaporasse por entre cada objecto e de um momento para o outro deixasse de ter existido na sua vida.

Odiava-a. Amava-a. Odiava-a. Amava-a. Odiava-se por amá-la. O amor e o ódio entrelaçam-se nas fundações da essência humana. Durante quanto mais tempo aquele fogo faria questão de o consumir por dentro? Ele sabia que enquanto isso acontecesse, ela estaria sempre ali com ele. E assim, despejou todas as suas coisas em cima da cama e junto a elas adormeceu. Teria de esquecê-la, nem que para isso levasse a vida inteira.”

segunda-feira, 23 de julho de 2007

Hoje sinto-me assim... parte 1

I walk a lonely road
The only one that I have ever known
Don't know where it goes
But it's home to me and I walk alone

I walk this empty street
On the Boulevard of Broken Dreams
Where the city sleeps
And I'm the only one and I walk alone

I walk alone
I walk alone

My shadow's the only one that walks beside me
My shallow heart's the only thing that's beating
Sometimes I wish someone out there will find me
'Til then I walk alone

I'm walking down the line
That divides me somewhere in my mind
On the border line
Of the edge and where I walk alone

Read between the lines
What's fucked up and everything's alright
Check my vital signs
To know I'm still alive and I walk alone

I walk alone
I walk alone

My shadow's the only one that walks beside me
My shallow heart's the only thing that's beating
Sometimes I wish someone out there will find me
'Til then I walk alone

I walk alone
I walk alone

I walk this empty street
On the Boulevard of Broken Dreams
Where the city sleeps
And I'm the only one and I walk alone

My shadow's the only one that walks beside me
My shallow heart's the only thing that's beating
Sometimes I wish someone out there will find me
'Til then I walk alone...



"Boulevard of Broken Dreams"
Lyrics by Green Day

sexta-feira, 20 de julho de 2007

Sonoridades (1)

Confesso-me uma apaixonada pela música do argentino Gustavo Santaolalla. Para quem não conhece, este senhor é responsável por algumas das melhores bandas sonoras de sempre, tais como 21 Gramas, Os Diários de Che Guevara, Babel e O Segredo de Brokeback Mountain.

Foi com surpresa que descobri que para além de compositor a solo, Santaolalla tem uma banda, a Bajofondo Tango Club. Com uma sonoridade diferente daquela a que Santaolalla nos habituou, os Bajofondo Tango Club apresentam uma mistura entre tango e funk, com laivos de algum hip-hop... algo entre Kinky e Gotan Project... eu sei, a descrição não é das melhores, mas acho sempre difícil descrever as coisas que se entranham em nós sem que saibamos porquê, acreditem apenas que as músicas são seguramente melhores do que a medíocre descrição que aqui fiz.

Para quem quer um "cheirinho", aqui ficam três grandes músicas. As duas primeiras pertencem à banda em questão, já a terceira, e uma das minhas favoritas de sempre, é de Gustavo Santaolalla a solo e pertence à banda sonora do fantástico filme de Michael Mann, O Informador.


Perfume



Miles de Pasajeros




Iguazu

P.S. - Desculpem lá o mau jeito dos controladores das músicas, mas é a primeira vez que faço isto... só espero que funcionem... Beijinhos!

terça-feira, 17 de julho de 2007

Mil folhas

Num desafio proposto pela minha amiga Olivia, tenho agora a complexa tarefa de enumerar os últimos cinco livros que li. Pois é… como leitora compulsiva que sou, leio de tudo um pouco, algumas vezes acerto, outras, dou um tiro em cheio no pé. De qualquer das formas, para mim ler será sempre um prazer. E é algo sem o qual, simplesmente, não consigo viver. Assim sendo, aqui ficam então os cinco ilustres…

─ A Traficante de Crianças – Gabrielle Wittkop
─ Tudo o que temos cá dentro – Daniel Sampaio
─ Portugal Hoje, o Medo de Existir – José Gil
─ A Filha da Floresta – Juliette Marillier
─ A Morte sem Nome – Santiago Nazarian

Para não quebrar a corrente, e também como modo de alimentar a minha própria curiosidade hehe, passo o testemunho desta cadeia a:

• Pinguim: why not now
• Cris: movieplayground
• Catwoman: the doll house
• Senhor do Mundo: lá porque não tens blog, não penses que te safas ;)

Beijocas gordas a todos :)

sexta-feira, 13 de julho de 2007

Partiste



"Partiste. O avião descolou levando contigo os meus últimos batimentos cardíacos. Desde essa altura que vivo em stand by. Antes dormia no meio desta cama. Quando decidimos começar a dormir juntos e já frescos da paixão que nos fazia mergulhar nela ainda cedo, irritava-me que tivesse de dormir encolhida para te dar espaço. Ocupavas o teu espaço e o meu. No verão não havia lugar para onde me virasse em que o teu calor não me inflamasse a pele. Sentia-me constantemente em brasa… Hoje continuo a dormir encolhida, mas do teu lado já não vem calor, apenas um vazio gelado que me intimida e não me permite regressar ao centro da cama. Prefiro ficar encolhida e durante breves segundos após acordar, ainda acreditar que lá estás.

Partiste. Foste meu de empréstimo. Prolongaste as tuas férias e entraste confortavelmente na minha vida. Quando, por sua vez, a tua vida exigiu a tua presença, descobri que o lugar que tinha nela era menor do que o que tinhas na minha. Dizias que voltarias ou que em breve me pedirias para ir ter contigo, mas eu sabia a verdade. O que tínhamos habitava estas ruas que tão bem conheço, estas paredes que ainda guardam os nossos segredos. Fora delas, tudo se esbatia em fumo. Aqui podias ser quem quisesses, aí és outro, e esse outro não me conhece da mesma maneira.

Partiste. Como sabia que farias um dia. Estava escrito nos teus olhos mesmo quando me prometias que não seria por muito tempo. Mesmo quando nos amávamos, lia-te a despedida no rosto.

Partiste. Conhecemo-nos no Algarve num dia de céu encoberto. Pela primeira vez na vida fazia férias sozinha. Assim que cheguei fui para a praia. Pouco me importava que houvesse pouco sol, não queria perder um minuto das minhas férias. Deitei-me e comecei a ler. Já não me recordo do livro, presumo que não me tenha marcado. Saíste da água e passaste por mim. Não te vi, apenas a tua sombra quando passaste junto a mim. Desisti do livro e atirei-o para um canto onde pudesse fazer companhia à areia. Olhei em volta e ali estavas tu, sentado a olhar para o mar. Tinhas um ar perfeitamente normal mas qualquer coisa em ti levou-me a crer que não eras de cá. Exibias um ar apaixonado e fascinado demais para seres português. Nós também nos apaixonamos, nós também nos fascinamos, mas nunca o mostramos do modo como o fazias. Tudo era novidade invadindo-te a vista. Quando me apanhaste a mirar-te, sorriste. Sorrimos os dois. O tempo passou. Tu permanecias encantado com tudo o que te rodeava, enquanto eu, deitada de barriga para baixo, tentava combater o sono que me começava a invadir. O sol permaneceu sem aparecer, mas a aragem quente não nos permitia arrepender da nossa decisão. Vieste ter comigo quando levantei a cabeça à procura do cão que ladrava incessantemente e perguntaste-me se sabia falar inglês. Respondi-te que sim, e no momento em que te olhei nos olhos senti o meu vocabulário abandonar-me. Parecia que todos aqueles anos de estudo e as horas a ver filmes americanos deixaram-me com apenas duas palavras na mente, yes e no. Sei que não achas, mas repito, és lindo. E quando sorris, o sol brilha mais forte. Ainda me lembro da nossa primeira conversa. Falámos sobre as últimas férias. Tinhas estado no Havai e eu, vergonhosamente, admiti que não tinha férias há três anos. E voltaste a sorrir.

Partiste. Tornámo-nos inseparáveis e ultrapassaste as minhas barreiras construídas ao longo dos anos. Devia tratar-te com desconfiança e evitar ficar muito tempo sozinha contigo. O mundo em que vivemos e o excesso de informação tornam-nos paranóicos. Podias ser um psicopata qualquer. Perdoa-me, mas não resisto a sorrir. Hoje sei que és incapaz de fazer mal a alguém. Talvez apenas a ti próprio, se assim tiver de ser. Conquistaste-me ao quarto dia. Durante o jantar falaste sobre a tua família e a tua terra. No momento em que me contaste que a tua irmã mais nova tem o sindroma de down e como a amaste desde o primeiro dia, senti-me grata por ter sido teimosa e ido para a praia naquele dia. Confessaste que ela era a mulher que mais amavas na vida, mais ainda do que a tua mãe. Quando afirmaste que havia algo no meu sentido de humor que te lembrava ela, não me ofendi, senti-me lisonjeada.

Partiste. Quando nos beijámos pela primeira vez, apanhaste-me de surpresa. Achava-te sincero e meigo demais para imaginar que pensavas em mim dessa maneira. Logo eu, a eterna maria rapaz. Não resisti… nem quando me convidaste a entrar no teu quarto… nem quando me despiste e disseste que era linda… nem quando fizemos amor e no meio de toda a loucura rias-te sempre que eu verbalizava pensamentos incoerentes em português.

Partiste. Cedo aprendeste a dizer algumas palavras em português. Café… sal… comida… amigo… beijo…

Partiste. As minhas férias acabaram cedo demais mas tu ainda tinhas dois meses para me oferecer. Pedi-te que viesses para Lisboa comigo e tu vieste. Durante o dia, enquanto eu trabalhava, eras turista, à noite eras meu.

Partiste. Acordei cedo no dia da tua partida. As tuas malas junto à porta exigindo que te despachasses. Despedimo-nos e prometeste voltar, mesmo que ambos soubéssemos que provavelmente não o farias. Durante os meses seguintes o telefone tornou-se no meu melhor amigo.

Partiste. Sento-me nesta cadeira velha e olho pela mesma janela pela qual olhavas tantas vezes. Tens razão, as nuvens de Lisboa têm um ar mais pacífico do que quaisquer outras. Agora poderás vê-las melhor. Ainda seguro a carta que a tua mãe me enviou. Durante os meses após a tua partida nunca imaginei que eles soubessem da minha existência. Mas sabiam, tal como descobriram a minha morada no meio dos teus papéis ao abandono.

Partiste. Nunca mais voltarás. Deixaste-nos para sempre. Tenho medo de que o teu rosto se apague da minha memória.

Partiste. Finalmente vou à tua terra. Não para passar as férias contigo como imaginei, mas para me despedir de ti. Vou conhecer a tua vida, mas tu já não estarás lá. Morreste. Afogaste-te no lago ao pé da tua casa. O mesmo onde ensinaste as tuas irmãs a nadar. Preferiste ignorar que tinha chovido na noite anterior e a água estava carregada de lodo.

Partiste. Sei que nunca te disse isto… Acho que te amei. Foste a luz que me permitiu caminhar e ainda hoje brilhas.

Partiste."

segunda-feira, 9 de julho de 2007

Puritanos de meia tigela

As coisas que esta gente se lembra de atacar…

Durante a semana passada a Comissão Europeia lançou um vídeo promocional do cinema europeu. Imediatamente, os falsos puritanos, que ultimamente parecem nascer que nem cogumelos na nossa sociedade, fizeram ouvir a sua voz. Logo contestaram a escolha do teor do mesmo, só porque o vídeo em questão é composto por uma série de imagens de cariz sexual que, segundo eles, são totalmente desadequadas.

Que a Comissão Europeia escolha um tema destes para promover o seu cinema parece-me mais do que arrojado, bastante inteligente, afinal não há nada que venda melhor do que sexo. O que me espanta é que uns quantos “senhores sérios” venham a público criticar um mero vídeo (parece-me falta do que fazer!) e a Comissão ainda lhes dê trela. Foi triste ver um representante desta instituição tentando justificar-se perante os jornalistas. Depois de tantas perguntas idiotas e respostas evasivas, cheguei à conclusão que afinal o problema não reside nas imagens do vídeo, mas sim no seu título, “Lets come together”. Ao que parece o significado da palavra come deixa-os um nadinha confusos…

Pena é que não se revoltem com o excesso de violência que por aí se vê em qualquer meio de comunicação. Mais parece que as imagens de carnificina na Faixa de Gaza ou no Iraque são perfeitamente aceitáveis, ou que a fome em África é algo que já não revolta ninguém.

Alguém uma vez disse que as pessoas não se chocam com a violência porque esta faz parte do ser humano. Ao que eu pergunto: e o sexo não? Assim sendo, aqui fica o tão falado vídeo. Let’s come together… ora vamos sim senhor!



sexta-feira, 6 de julho de 2007

Há dias assim...


Não queria que o meu primeiro post a sério tivesse este teor, mas as circunstâncias da vida ou o simples término de uma, levaram-me a isso.

Ontem foi um dia difícil. Uma das minhas colegas de trabalho morreu. E eu fui a primeira a sabê-lo. Fui a primeira a carregar o peso da fragilidade alheia. Se ao menos não tivesse atendido aquele maldito telefonema… Se não tivesse prestado qualquer atenção à voz monocórdica do polícia que ligou… Talvez tenham lido nas notícias sobre a morte de uma senhora na estação de metro de sete rios. Um dia igual a tantos outros que acabou por se tornar único.

Apesar de termos feitios difíceis, dávamo-nos muito bem e, trabalhando 8 horas por dia na mesma sala, era inevitável que a amizade nascesse. Acabei por, inadvertidamente, tornar-me numa espécie de neta postiça, daquelas a quem dão pequenas ofertas fora das festividades e sobretudo muito apoio. Acho que esgotei os meus nervos para o resto do ano. Daqui para a frente vai parecer que vivo meramente de Xanaxs. O “então até amanhã” que me ofereceu ao final do dia anterior ainda agora martela nos meus ouvidos. E eu, que estava tão embrenhada na construção deste espaço, apenas soltei um rápido “adeus” sem tirar os olhos do monitor… Era uma senhora com espírito forte e parecia “vender saúde”. Sempre achei que ainda nos enterraria a todos, mas sábado somos nós que lhe dedicamos um último adeus. Para mim, foi mais uma amiga que perdi, a única que tinha aqui no emprego.

A vida continua. A senhora que se recusava a ensinar o seu trabalho a alguém tentando em vão alimentar a ilusão de que era insubstituível, vê o seu trabalho ao abandono e sente-se vingada. Mas o tempo passa mesmo quando não queremos. Os longos minutos vão acalmando nervos, secando lágrimas, conformando corações… e então, numa hora como qualquer outra, alguém pega no seu trabalho e por entre muito stress, confusão e medo de falhar por agora executar duas funções de responsabilidade, tudo o que parecia indecifrável começa a ganhar sentido… e subitamente, aos poucos e poucos tudo se vai fazendo… pequenos passos, um de cada vez, mas sempre em frente. A cadeira que parecia insuportavelmente vazia já tem novo ocupante. Dói-me que esse ocupante seja eu.

quinta-feira, 5 de julho de 2007

Welcome


Welcome into my lair… where everything is possible… step inside and maybe you’ll feel something you’ve never felt before… just relax… breathe… think… feel… but ultimately… enjoy