sexta-feira, 6 de julho de 2007

Há dias assim...


Não queria que o meu primeiro post a sério tivesse este teor, mas as circunstâncias da vida ou o simples término de uma, levaram-me a isso.

Ontem foi um dia difícil. Uma das minhas colegas de trabalho morreu. E eu fui a primeira a sabê-lo. Fui a primeira a carregar o peso da fragilidade alheia. Se ao menos não tivesse atendido aquele maldito telefonema… Se não tivesse prestado qualquer atenção à voz monocórdica do polícia que ligou… Talvez tenham lido nas notícias sobre a morte de uma senhora na estação de metro de sete rios. Um dia igual a tantos outros que acabou por se tornar único.

Apesar de termos feitios difíceis, dávamo-nos muito bem e, trabalhando 8 horas por dia na mesma sala, era inevitável que a amizade nascesse. Acabei por, inadvertidamente, tornar-me numa espécie de neta postiça, daquelas a quem dão pequenas ofertas fora das festividades e sobretudo muito apoio. Acho que esgotei os meus nervos para o resto do ano. Daqui para a frente vai parecer que vivo meramente de Xanaxs. O “então até amanhã” que me ofereceu ao final do dia anterior ainda agora martela nos meus ouvidos. E eu, que estava tão embrenhada na construção deste espaço, apenas soltei um rápido “adeus” sem tirar os olhos do monitor… Era uma senhora com espírito forte e parecia “vender saúde”. Sempre achei que ainda nos enterraria a todos, mas sábado somos nós que lhe dedicamos um último adeus. Para mim, foi mais uma amiga que perdi, a única que tinha aqui no emprego.

A vida continua. A senhora que se recusava a ensinar o seu trabalho a alguém tentando em vão alimentar a ilusão de que era insubstituível, vê o seu trabalho ao abandono e sente-se vingada. Mas o tempo passa mesmo quando não queremos. Os longos minutos vão acalmando nervos, secando lágrimas, conformando corações… e então, numa hora como qualquer outra, alguém pega no seu trabalho e por entre muito stress, confusão e medo de falhar por agora executar duas funções de responsabilidade, tudo o que parecia indecifrável começa a ganhar sentido… e subitamente, aos poucos e poucos tudo se vai fazendo… pequenos passos, um de cada vez, mas sempre em frente. A cadeira que parecia insuportavelmente vazia já tem novo ocupante. Dói-me que esse ocupante seja eu.

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