terça-feira, 27 de novembro de 2007

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Sonoridades... (3)

Adquiri há umas semanitas um daquele cds que por tanto o procurarmos sem sucesso, é automaticamente elevado à categoria de relíquia quando é finalmente encontrado. A banda sonora de Death Proof é um desses cds. Para quem, como eu, viu e delirou com a mais recente aventura “tarantinesca”, deve certamente compreender o que significa ter à sua disposição a sua banda sonora. Arrisco-me a dizer que estamos perante a melhor banda sonora alguma vez organizada por Tarantino, o que é dizer muito considerando as de Kill Bill e claro, Pulp Fiction. Pois é… quando se pensa que já não pode fazer melhor, ele faz. Neste caso, desenterrou umas quantas músicas dos anos 60 e 70, algumas das quais praticamente desconhecidas e injectou-lhes a coolness que mereciam. Lol!
Foi difícil escolher, mas deixo-vos aqui uma pequena amostra…



Staggolee - Pacific Gas & Electric



Jeepster - T Rex



The Love You Save (May Be Your Own) - Joe Tex



Down in Mexico - The Coasters



Hold Tight - Dave Dee, Dozy, Beaky, Mick & Tich

… e agora digam lá que não dá uma imensa vontade de pôr as colunas no máximo e partir numa road trip sem destino... hehe :)

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Quase

Um pouco mais de sol - eu era brasa,
Um pouco mais de azul - eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...

Assombro ou paz? Em vão... Tudo esvaído
Num grande mar enganador de espuma;
E o grande sonho despertado em bruma,
O grande sonho - ó dor! - quase vivido...

Quase o amor, quase o triunfo e a chama,
Quase o princípio e o fim - quase a expansão...
Mas na minhalma tudo se derrama...
Entanto nada foi só ilusão!

De tudo houve um começo ... e tudo errou...
- Ai a dor de ser - quase, dor sem fim...
Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,
Asa que se elançou mas não voou...

Momentos de alma que desbaratei...
Templos aonde nunca pus um altar...
Rios que perdi sem os levar ao mar...
Ânsias que foram mas que não fixei...

Se me vagueio, encontro só indícios...
Ogivas para o sol - vejo-as cerradas;
E mãos de herói, sem fé, acobardadas,
Puseram grades sobre os precipícios...

Num ímpeto difuso de quebranto,
Tudo encetei e nada possuí...
Hoje, de mim, só resta o desencanto
Das coisas que beijei mas não vivi...

Um pouco mais de sol - e fora brasa,
Um pouco mais de azul - e fora além.
Para atingir faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...


Mário de Sá-Carneiro

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Desejos vencidos


Olho em volta e procuro encontrar um sentido. Tornei-me analítica. Deixei de confiar. Infelizmente não consigo transformar-me na pedra que inibiria o sofrimento. Não sou imune a nada. Tudo me toca e fere. Apesar de tudo acho que continuo a mesma em alguns aspectos. Quem me conquista, é para a vida, mesmo que saiba que tudo acabará num dia como outro qualquer. Sem floreados. Sem pôr-do-sol. Apenas o fim. O adeus nunca dito e o virar de costas. Relacionamentos que se perdem no vazio das incertezas. O que é que leva alguns de nós a desistir sem tentar? Será medo de perder ou de alcançar? Talvez enquanto nos for permitido pelos outros viver em ponto morto, acreditemos que é legítimo sofrer.

Auto-preservação ou sabotagem pura? Coragem ou cobardia? Acho que já fui assim. Já vivi o medo de me deparar com a concretização de um desejo e ser confrontada com a certeza de que escolhi mal. Hoje em dia acredito ser diferente. Acordei. Sei que nem sempre aquilo que desejamos com todas as nossas forças e pelo qual lutamos nos irá fazer feliz. Talvez esteja enganada, mas acredito que as desilusões e sofrimento que daí advém tornaram-me mais forte. Não quer isto dizer que seja melhor pessoa. Provavelmente não o sou. Sempre fui autêntica, no que isso tem de bom e de mau, mas a minha sinceridade e realismo nunca foram meus amigos. Mas enquanto antes me punia por isso, hoje aprendi a viver assim. Quem não gosta que ponha na borda do prato. Prefiro isso a cinismos calculados, mesmo que a dor da rejeição seja insuportável.

Gosto de pessoas pouco convencionais, daquelas que têm a força para defender os seus ideais e estilos de vida por mais estúpidos que pareçam. Não me entendam mal. Não suporto pessoas arrogantes e intransigentes que pretendem doutrinar os seus pensamentos e rejeitam por inteiro opiniões diferentes. Em suma, gosto do produto genuíno. Sem artificialidades. Sem papel de embrulho. Estou cansada do politicamente correcto. Conversas vazias e requentadas e opiniões copiadas a papel vegetal. Frases feitas e comportamentos estudados aborrecem-me. Medos alheios camuflados com chavões e moralismos em prestações.

Porque será que a maioria das pessoas tem tanto medo de admitir que tem medo? Será sinal de doença admitir essa “fraqueza”? Oportunidades perdidas vezes e vezes sem conta por medos que se atiram para entre as linhas. Especialmente no que diz respeito a relações pessoais. Acho que todos podemos olhar para trás e perguntarmo-nos que tipo de relação teríamos hoje em dia com uma determinada pessoa do nosso passado se as escolhas tivessem sido diferentes. As nossas. As dos outros. No pouco que vivi, sempre fui aquela que lutou por alcançar e/ou manter determinadas coisas. Custa-me desistir das pessoas de quem gosto. Mesmo em carne viva não consigo dar-me por vencida nem que me encontre por terra sem nenhum caminho em redor. Assim sendo, detesto que o façam por mim com pretensões ilusórias de que sabem como me sinto e o que devo fazer a seguir. Talvez seja mesmo mais fácil virarmos as costas àquilo que queremos. É confortável arranjarmos desculpas para nem sequer tentarmos. Abandonos ou traições feitos por altruísmo não existem.

Vidas que se poderiam ter cruzado alegremente. Vidas que se cruzaram e separaram sem necessidade. Pólos negativos criando carga positiva. Custa-me a incerteza. Custa-me não saber as razões verdadeiras por detrás de actos estranhos e sem sentido. Uma pergunta apenas… porquê?

As pessoas traem-nos, abandonam-nos, destroem-nos. É um facto consumado. Já todos o experimentámos numa qualquer altura das nossas vidas. Mas cada vez mais a dúvida assola-me. Abandonam-nos porque não gostam de nós e nos querem à distância? Ou pelo contrário, têm antes medo do quanto poderão vir a gostar de nós? Talvez prefiram não querer ou precisar de alguém do que entregar os seus sentimentos a outro ser humano. Eu já não sei nada. Vejo a mesma história repetir-se desde cedo. Odeio o talvez. Prefiro o sim e o não directos. “E se…” é a pior frase que se pode construir ao longo da vida. Mesmo com todos os meus defeitos eu poderia ter sido a melhor coisa na tua vida, mas sempre preferiste percorrer o caminho mais percorrido, o da derrota precoce.