sábado, 15 de setembro de 2007

Solidão... pedaço eterno de mim


Solidão… pedaço de mim que vagueias por entre os caminhos da vida. Procuro perder-te numa qualquer curva apertada, mas surges sempre perto de mim, mostrando-me que sem ti não posso viver. Tento esquecer que estás presente em cada parte de mim, como um cancro que vai destruindo o pouco de vida que encontra.

Julgo que não nasci assim, mas até hoje não consigo identificar o momento preciso em que uma peça do puzzle caiu, deixando para sempre este vazio no peito que nada parece conseguir preencher. Sinto esse vazio cravado em mim, reclamando a minha atenção. Buraco negro que se propaga e consome tudo à volta, mas muito lentamente. Há que sentir as suas garras dilacerando a carne muitas e muitas vezes. Engolir a dor e acreditar que será a última vez.

A pele translúcida mostra a casa desarrumada… despojos de uma guerra sem fim onde não há vencedores, apenas vencidos. O coração partiu-se há muito tempo deixando um rasto sujo à sua volta. Os anos e o apoio de umas quantas almas corajosas permitiram-me recuperá-lo… juntar peça por peça e senti-lo voltar a bater. Hoje está inteiro e saudável, mas o medo de o voltar a entregar cresce de dia para dia. Receio que nova rejeição o desfaça em pó… cinza que o vento leve e espalhe por lugares a que nunca pertenci.

Olho em volta e não vejo nada. Sigo cega por um caminho que não escolhi e não conheço. Quero acreditar que em algum momento alguém me dará a mão e me ensinará a caminhar por entre a bruma… mas a espera é vã e o vazio continua… vergonha em mim que me sufoca… pecado em mim que me aniquila…

Sinto-me presa atrás de uma muralha que surgiu sem que desse conta. Não a fortifico e tento quebrá-la, mas ela permanece… invisível mas intransponível, como a fronteira para um país desconhecido… O eu que todos conhecem caminha lá fora, perdida e sem rumo mas camuflada por todos os outros que não a vêem… O eu verdadeiro permanece escondido esperando que alguém alcance o impossível e ultrapasse a muralha… Eu não sou apenas aquela que sorri frequentemente confortando egos magoados, eu sou aquela que chora sem saber porquê e ri às gargalhadas de coisas idiotas e por vezes sem graça. Eu não sou apenas aquela que não é vaidosa por achar a vaidade repugnante, eu sou aquela que não tem vaidade por achar não ter qualquer beleza para evidenciar. Eu não sou apenas aquela que faz rir, eu sou aquela que espera que alguém repare no seu sofrimento e a conforte. Eu não sou apenas aquela que tenta fazer planos para o futuro, eu sou aquela que foge dele sabendo que o atravessará na mais completa solidão. Sou o muito e o pouco. O bom e o mau. O tudo e o nada. Eu sou aquela que escreve este texto esperando que ninguém leia as palavras e simplesmente oiça o grito que ele esconde. Eu sou aquela que procura sem encontrar… Eu sou aquela que perdeu…


“Estou só, horrorosamente só, ó Deus e como sofro. Toda a solidão do mundo entrou dentro de mim. E no entanto, este orgulho triste, inchando – sou o Homem! Do desastre universal, ergo-me enorme e tremendo.”
Vergílio Ferreira
(muito obrigado P ;))

4 comentários:

Miss Vesper disse...

Somos um pouco de tudo e nao exclusivamente como nos queirem fazer acreditar... confesso que labirinticamente em mim existe essa solidão, esse vazio que a trote se desloca... lá fora os olhares distantes e distraidos adoram a superficie, ignorando que sob a calma possam estar crocodilos... uma analogia meia manca para dizer apenas, que por debaixo das ondas existe mais que a espuma e mais que a fauna e a flora, existe a profundidade que da luz se esconde e à falta dela se revela só...
para os que pegam na lanterna e mergulham fundo, as ondas revelam a sua verdadeira beleza.... para os que apenas chapinham no cimo, apenas conhecem uma casca...
a cebola só faz chorar quando se chega à ultima camada da casca... e para esse choro belo é preciso ter coragem e vontade de lutar por essa profundidade...
para os que chapinham tudo é simples porque se usam da facilidade de boiar, como quem decide se o jantar vai ser carne ou peixe... facilidade que lhes dá o conforto do não conflito, de que tudo está bem... nem sempre está. e por isso vale apena ser humano, nem isto nem aquilo, talvez ponte de devaneio entre o eu e o outro, um meio, várias partes...
continua a sê-las todas elas, porque usando palavras de outrém: uma árvore pode estar direita e ser torta ao mesmo tempo. Que ninguém te impeça de ser.
nem que para isso tenha de conviver com a enorme intromissão do vazio, inata solidão...

e terminaste com um Vergilio Ferreira, melhor com o tempo e com os anos:) simplesmente maravilha.

Obrigada por este teu texto, lindo lindo!

beijinhos

João Roque disse...

O texto é realmente fabuloso, faz uma dissecação muito completa do teu estado de alma, mas é preciso pensar que não estás só nessas angústias e nessas aparentes contradições; todos nós, pelo menos parcialmente, já passámos por situações semelhantes:
Há algo que não podes esquecer, e que tem que ser a âncora do teu barco, aparentemente à deriva, e isso são as amizades que te rodeiam e nunca te deixarão cair no vazio; bastará um simples gesto de carência e estaremos aí, ao pé de ti, está certa disso.
Beijoquitas muito especiais, hoje, para ti.

Anónimo disse...

N é primeira vez q aqui venho, mas é a primeira q escrevo. Com um texto destes n podia deixar de o fazer. Cm é possível q te sintas assim? Cm é q continuas a deixar q te tratem mal? Spr foste das pessoas q mais gostei de conhecer. Tenho pena q tenhamos perdido contacto, mas isso resolve-se ;-) N ligues aos outros. És um prato cheio. Mas dás td aos outros e n guardas nd para ti. É natural q se aproveitem e depois te abandonem. Faz parte do ser humano destruir o q há de bom. Mas n te sintas sozinha. Aposto q continuas sem ver a pessoa linda q és e a luz q ofereces aos outros. E aposto q n te apercebes de quem te ama. Felizes daqueles q te conhecem e te amam.

Anónimo disse...

Em Resposta ao teu comentário no meu blog, o qual agradeço: Sinto- me amado, sim, por Deus, seja ele o que for: a natureza que nos envolve, o mundo, o Universo, a mente dos homens- a parte oculta que alguns teimam em não acreditar que existe, a sintonia dos homens. Se bem que nesta vida sinto que não sou amado por ninguém, mas enquanto tiver algo a que me agarrar nesta vida cá continuarei, com a esperança que sobrar dos dias que passam.
Um beijo.
Johnybigodes