terça-feira, 23 de dezembro de 2008

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Ponto morto


Acho que o dia mais triste da nossa vida é o dia em que matamos a nossa esperança. As constantes má escolhas, os sonhos aniquilados e, se forem como eu, a eterna auto-sabotagem, minam para sempre a fundação da nossa esperança e deixam apodrecer a nossa alma. A nossa vida pode não sofrer significativas variações durante a sua duração, podemos viver durante anos sem acrescentar uma vírgula ao texto que os dias repetitivos escrevem por nós, mas em algum momento da nossa jornada o passado dissolve-se no presente desmembrando assim qualquer futuro. A luz funde-se e com ela desaparecem os planos gravados nas paredes da nossa existência.

Cada dia que nasce representa um desafio, mas desta vez o esforço não se reflecte em actos únicos e ousados, mas no mais corriqueiro de todos, levantar da cama todas as manhãs. Abrir os olhos e enfrentar os dias tentanto ignorar a noite passada em branco alimentando pensamentos de auto-destruição, as lágrimas ainda frescas no rosto, a vergonha escondida em cada poro. As dúvidas consomem tudo. Neste solo queimado não há lugar para uma nova existência. Mas enquanto o solo sob os nossos pés seca, o mundo continua a girar, peça a peça.

A primeira vítima do assassinato da nossa esperança, é o corpo. As variações de peso acentuam-se. A vaidade eclipsa-se e revela-se a cada dia que passa mais e mais desnecessária. O vestuário muda. Em vez de nos expormos ao mundo, aprendemos a escondermo-nos. O traje de eleição é sempre largo e em cores escuras e discretas. O único objectivo passa a ser a fusão com o cenário e o calendário deixa de registar qualquer data significativa. Só uma coisa conta. O relógio passa a debitar os minutos para o cair do pano. Tudo acaba, mais cedo ou mais tarde. Se nos agrada achamos que acaba cedo de mais. Se nos magoa achamos a espera longa.

Viver é difícil para todos. Talvez para uns as coisas pareçam e até sejam mais facilitadas, enquanto outros permanecem eternamente numa fila interminável para oportunidades que nunca verdadeiramente se vislumbram. Mas todos acabamos por sofrer, de uma forma ou de outra. Somos animais insatisfeitos. E perante isto, apenas existem dois caminhos a percorrer, tentar viver ou tentar morrer. Certamente que há quem não entenda sentimentos desta natureza, pessoas que nunca caminharam na parte cinzenta da nossa paleta de vida, para quem tudo sempre foi preto ou branco. Muitos limitam-se a viver a sua vida tentando convencerem-se a si e aos outros de que, apesar de tudo, aquele é o caminho que escolheram. Outros ainda, preferem ignorar as cicatrizes achando-se detentores de uma verdade que só eles vêem, os doutrinadores de vão de escada que se usam como exemplo de conquistas que no fundo só a eles diz respeito. Nunca fui adepta de doutrinas. Por muito que se viva e por muito que se saiba, nada está verdadeiramente escrito e até que o sintam na carne ninguém tem legitimidade para “oferecer” salvações.

Todos somos diferentes. Aquilo que nos faz sofrer e efectivamente nos destrói varia de pessoa para pessoa. Assim sendo, também a nossa salvação depende de quem somos. Alguns acreditam que é o amor, o trabalho, o dinheiro, ou talvez a amizade, uma vida no campo, ou até quem sabe, uma viagem até ao outro lado do mundo. Somos a nossa destruição e a nossa própria cura.

É triste o dia em que nos desencantamos de nós. Queremos fugir da nossa própria companhia. Desejamos fechar os olhos e acordarmos com as feridas saradas. Tornamo-nos rascunhos animados de quem poderíamos ter sido. Algumas oportunidades perderam-se, outras simplesmente nunca surgiram mesmo quando sacrificámos tudo por elas.

Todos nós sofremos, por uma razão ou outra. Alguns chegam mesmo a não saber fazer mais nada. Como uma dependência que nenhum tratamento cura. O único vício efectivamente impossível de combater. A descida é lenta mas nunca muda de direcção. A esperança foi conquistada pelo vazio de uma certeza inglória. A partir desse momento nada mais resta do que esperar por uma absolvição que inevitavelmente trará consigo um efectivo fim ou um belo início… Quanto a mim, apenas gostaria que a descida se interrompesse, de uma maneira ou de outra…

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

...

(…)"A minha paciente era aquele tipo de pessoa que à primeira vista parece ter uma inteligência fenomenal ou um parafuso a menos. Quando constatei que se tratava da primeira possibilidade – se bem que os muito inteligentes sejam também, quase por definição, um pouco “avariados” – reconheci tratar-se daquele tipo de inteligência inconsciente do seu próprio potencial. Na minha experiência, esta é uma característica muito mais frequente nos doentes mentais do que se costuma julgar. Viver neste mundo por si só já é suficientemente complicado, e para aqueles que descortinam a realidade sem contudo possuírem recursos adequados para lidar com essa visão mais arguta das coisas, a vida torna-se muito mais complicada.



É complicada de justificar esta comum resistência humana à felicidade, a menos que para nós seja realmente preferível permanecermos defeituosos à conta daquilo que nos falta, em vez de arriscarmos a dor – uma consequência potencial do acto de entregarmos os nossos eus secretos às mãos de outrem. O desejo de se ser amado é uma necessidade tão básica quanto o desejo de comer ou beber. Porém, a entrega aos deleites de ser amado requer fibra. Pois é nesse ponto em que a vida é despertada com maior ardor que pode ser aniquilada da maneira mais excruciante, e o medo dessa possibilidade pode tragicamente obscurecer a chama sagrada."(…)

in “Do outro lado de ti”, de Salley Vickers

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

I'm in the mood for... (3)

I tell you how I feel but you don't care
I say tell me the truth but you don't dare
You say love is a hell you cannot bear
And I say gimme mine back and then go there for all I care

I got my feet on the ground and I don't go to sleep to dream
You've got your head in the clouds and you're not at all what you seem
This mind, this body and this voice cannot be stifled by your deviant ways
So don't forget what I told you, don't come around, I got my own hell to raise

I have never been so insulted in all my life
I could swallow the seas to wash down all this pride
First you run like a fool just to be at my side
And now you run like a fool but you just run to hide and I can't abide

I got my feet on the ground and I don't go to sleep to dream
You've got your head in the clouds and you're not at all what you seem
This mind, this body and this voice cannot be stifled by your deviant ways
So don't forget what I told you, don't come around, I got my own hell to raise

Don't make it a big deal, don't be so sensitive
We're not playing a game anymore
You don't have to be so defensive

Don't you plead me your case, don't bother to explain
Don't even show me your face, 'cause it's a crying shame
Just go back to the rock from under which you came
Take the sorrow you gave and all the stakes you claim
And don't forget the blame

I got my feet on the ground and I don't go to sleep to dream
You've got your head in the clouds and you're not at all what you seem
This mind, this body and this voice cannot be stifled by your deviant ways
So don't forget what I told you, don't come around, I got my own hell to raise

I got my feet on the ground and I don't go to sleep to dream
You've got your head in the clouds and you're not at all what you seem
This mind, this body and this voice cannot be stifled by your deviant ways
So don't forget what I told you, don't come around, I got my own hell to raise


"Sleep to Dream", by Fiona Apple



terça-feira, 21 de outubro de 2008

A derrota anunciada


A tinta secou e misturou com ela todas as palavras que habitam o peito. A areia da minha alma mistura-se com a cal dos meus dias e transforma-se na minha cruz. O pecado consumado derramou a última gota de sangue deste copo vazio. Nunca matei a sede, e o copo rachou.

Viveste em mim por pouco tempo. Por muito que te pedisse, nunca me deixaste conhecer o teu coração e a tua alma. A espera há muito que acabou, deixando apenas braços vazios e pedaços de esperança fora de validade, perdidos por entre as vielas do meu caminho. Escondeste-te por detrás de um passado há muito morto e que apenas tu ainda alimentas. Preferiste a solidão à promessa de algo que nenhum de nós soube ou quis identificar. O ponto nas nossas estradas que permitiu o nosso cruzamento apagou-se rapidamente. A terra desvaneceu-se debaixo dos nossos pés e antes que ela nos engolisse, decidimos continuar o nosso caminho. Infelizmente para lá daquele ponto, não haveriam mais cruzamentos. As estradas separaram-se para não mais se encontrarem.

Gostaria de te ter visto sorrir com gosto uma vez. Pintaria um quadro com o teu sorriso, para que nunca se apagasse e o pudesses ver sempre que te sentisses triste. Mas sempre fui uma má pintora. Sempre pintei os meus sonhos e não a realidade. O sorriso que desenhei no teu rosto era lindo mas não me pertencia. Apesar de tudo, gostaria de saber que sorris. Gostaria de te saber feliz e em paz.

Há meses que não pensava em ti. Não sei porque o faço agora. Cilindraste-me à chegada. Querias tudo mesmo não o sabendo. Assustaste-me. Pediste-me que me traísse a mim mesma. Exigiste que negasse tudo aquilo que a minha mente me dizia. Fi-lo. Deliberadamente voltei as costas a mim própria, desejando que o futuro não me desse razão. Preferi acreditar em ti mesmo quando cá dentro sabia que não o deveria fazer. Sabia que procuravas em mim uma substituta para algo que julgas ter perdido mas que, no fundo, talvez nunca tenhas precisado. Até hoje não sei porque me escolheste a mim. Se a tua ideia sempre foi alimentar mas nunca substituir, não precisavas de mim. Sabia que o teu entusiasmo avassalador e pouco natural não poderia durar para sempre. Havia uma inquietude e um desespero em ti que me deixavam pouco à vontade. Mais cedo ou mais tarde acordarias e verias a realidade como ela era. Estavas a usar outra pessoa para combater os teus medos por ti. E eu sempre soube que quando o pano caísse e tivesses de escolher entre essa pessoa e esses medos, escolherias viver assustado. Sempre soube que partirias com a mesma rapidez com que tinhas aparecido. Sem explicações nem desculpas. Preferirias o teu passado ao teu presente e com isso cancelarias muito do meu futuro. Não te condeno por isso. Não me surpreendeu o dia em que não regressaste. Mas nunca esperei que me magoasse tanto. Destruiu qualquer coisa que não sei identificar. Sobrei só eu. Um remendo num pano velho e sem graça.

No fundo, talvez deva agradecer-te. Não me deixaste sonhar, logo quando era o que eu mais queria. Voltaste a mostrar-me as únicas realidades que me são familiares, abandono, solidão e recomeço. Graças a ti não sei se alguma vez voltarei a virar as costas, deliberadamente, às verdades que habitam as minhas veias. Deixei de acreditar. Tudo o resto é apenas nevoeiro. O que sobrou de mim consome-se por entre os anos da minha minúscula existência em ínfimas páginas de papel. Deixaste-me o peito cheio de palavras. Essas serão a minha eterna companhia, até ao dia em que este se feche para sempre e encerre no seu interior tudo o que a vida não me permitiu ouvir nem dizer.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

...

(...)"E assim prosseguimos com as nossas vidas, cada um para seu lado. Por mais profunda e fatal que seja a perda, por mais importante que seja aquilo que a vida nos roubou - arrebatando-o das nossas mãos -, e ainda que nos tenhamos convertido em pessoas completamente diferentes, conservando apenas a mesma fina camada de pele, apesar de tudo isso continuamos a viver as nossas vidas, assim, em silêncio, estendendo a mão para chegar ao fio dos dias que nos coube em sorte, para logo o deixarmos irremediavelmente para trás. Repetindo, muitas vezes, de forma particularmente hábil, o trabalho de todos os dias, deixando na nossa esteira um sentimento de um incomensurável vazio.

...

Talvez tudo já esteja secretamente perdido de antemão, num qualquer lugar remoto. Ou então existe num sítio onde todas as coisas desaparecem, fundindo-se umas nas outras, até formar uma única imagem. E, à medida que vamos vivendo, mais não fazemos do que descobrir - puxando-as para nós, umas atrás das outras, como quem desenrola um fio muito fino - tudo o que ficou para trás. Fechei os olhos e esforcei-me por me lembrar do maior número possível de coisas belas que tinham desaparecido da minha vida. Esforcei-me por chamá-las a mim, retê-las entre as mãos, mesmo sabendo que a sua existência seria efémera."(...)

in "Sputnik, meu amor" de Haruki Murakami

terça-feira, 2 de setembro de 2008

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

A página em branco


A página em branco enche-se de palavras por dizer. Todo o espaço livre preenche-se com os desejos que se perderam por entre a tinta das inúmeras canetas que já por aqui passaram. Já tudo parece dito e aquilo que sobra, aquilo que ainda se revela só nosso, mostra-se pequeno e sem sentido. Gostaria de te dizer como me sinto, mas não acredito que o queiras saber. Chegaste, seduziste, conquistaste o que quer que necessitasses para seguir em frente, e partiste sem deixar uma palavra à qual me agarrar. Pilhaste os sentimentos que me restavam. Só sobrou pó… uma mão cheia de nada… Lenço de papel sujo deixado à beira da estrada. Beata deitada pela janela de um carro em movimento. A minha mente gritava para que não me deixasse envolver, mas tudo o resto chamava por ti. Despedacei a minha alma para te deixar entrar. E apaguei o mundo do meu horizonte. Continuo a ser eu. Cinza e osso numa roupa qualquer. Vazio camuflado com gargalhadas sem fim. Sentimentos perdidos como pele queimada pelo verão. De nada mais servem. Viver de um querer que nunca acaba e de um sofrimento que não se explica. Mas ninguém nota. Sou rascunho de mim mesma. Letras perdidas em palavras que ninguém lê.

Sento-me à beira mar e o vento brinca com a minha pele. Olho para o mar e espero dele respostas que contrariem as certezas que se cimentaram por entre veias que ainda vibram. Sou uma boa ouvinte. Sempre o fui. Conheço muitos sonhos e visões de futuro alheios. E, por momentos, volto a acreditar. Deixo-me viver em segunda mão. Alimento-me de vitórias alheias que não me pertencem. A alegria daqueles que amo mantém-me de pé. Sei que no fundo tudo depende de nós, não só de quem somos como das pessoas que deixamos entrar nas nossas vidas. O esconderijo mágico. O dia D. Aquele dia em que os olhos se abrem e subitamente o modo como os outros nos vêem surge limpo de toda a sujidade que a convenção traz pela mão. O ecrã ilumina-se e o filme começa. Não interessa que oiças. Não interessa que te interesses. Não interessa que estejas sempre ao lado ano após ano. Quando todo o teu ser é composto por moléculas incapazes de cultivar amor, toda a verdade se revela. Não existe amor algum que te possa abraçar. As más escolhas são bagagens vitalícias.

Sempre fui uma apaixonada pelas pequenas coisas. Os pequenos gestos. Nas acções reside toda a verdade. As palavras perdem-se por entre as curvas do caminho, mas as acções relevam tudo aquilo que o silêncio insiste em esconder. Os sinais misturam-se. O preto perde-se no branco e do cinzento nascem incertezas e confusão. De que servem prendas de Natal caras quando o aniversário é sistematicamente esquecido? De que serve pavonearem fortunas quando nem um café oferecem? De que servem listas intermináveis de amigos se se recusam a apresentá-los? De que serve lutar contra a distância se nunca nos deixam entrar nas suas vidas? De que servem conselhos se mais não fazem do que apresentar currículo? De que servem mensagens de apoio quando as nossas oportunidades de futuro são propositadamente sabotadas? De que servem os grandes elogios se o nosso nome é criteriosamente omitido de ouvidos interessados? De que servem sorrisos matreiros se os abraços sinceros há muito que foram arrumados em gavetas profundas? De que servem que nos digam que gostam de nós se somos facilmente esquecidos? Às vezes acho que é melhor assim. Sei que custa admitir o prazer que a tristeza alheia dá a quem dela não sofre. Mas ele está lá, naquele cantinho nosso onde podemos ser sinceros. Não há vencedores ou vencidos, apenas vida e morte… luz e negrume. Sou uma carta de aviso. Caminho sem saída. Daqui para a frente, só terra batida. Sempre fui última escolha, em tudo. Talvez tudo seja apenas loucura, mas acho que não há auto-estima que sobreviva a tanta realidade. Comer, sorrir, brincar, e contar horas intermináveis. Tudo o resto parou. Caixa vazia e sem utilidade. Fósforo queimado sem réstias de calor.

Tento convencer-me de que tudo é passageiro. Quero desnudar a minha alma por inteiro até nada mais haver para esconder… até que o último espinho desapareça por entre o calor que invade o corpo. Quero viver em pleno. Quero redescobrir o amor e saber que me é dado por direito. Quero sonhar acordada e acreditar no futuro. Quero ser quem nunca fui e deixar de me preocupar com tudo o resto. Quero sobreviver ao fundo do poço e saber que a partir desse momento nada mais me atirará de volta às trincheiras. Quero acordar inteira e encher todas as páginas brancas da minha vida com frases verdadeiras e palavras que só o coração reconheça.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Florença pelos meus olhos... parte 1

... sei que não são maravilhosas, mas tenham paciência... a fotógrafa é rasca :P








segunda-feira, 11 de agosto de 2008

domingo, 3 de agosto de 2008

De partida...

Estou de partida... viro costas a este mundo sem graça que respiro diariamente... durante uma semana tentarei viver noutro e procurar-me por entre as frinchas de sonhos adiados...

Parto para Florença... infelizmente não por tanto tempo quanto gostaria mas que espero seja suficiente para voltar a acreditar... quero lavar a minha alma, deixar desfazerem-se todos os detritos de mim que a destroem... quero reaprender a respirar...

Espero voltar com o coração mais leve e frases novas para escrever... para que a minha história não se fique para sempre pelo mesmo adjectivo... Então, até ao meu regresso :)

Beijinhos a todos

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Poema do Homem Só

Sós,
irremediavelmente sós,
como um astro perdido que arrefece.
Todos passam por nós
e ninguém nos conhece.

Os que passam e os que ficam.
Todos se desconhecem.
Os astros nada explicam:
Arrefecem

Nesta envolvente solidão compacta,
quer se grite ou não se grite,
nenhum dar-se de outro se refracta,
nenhum ser nós se transmite.

Quem sente o meu sentimento
sou eu só, e mais ninguém.
Quem sofre o meu sofrimento
sou eu só, e mais ninguém.
Quem estremece este meu estremecimento
sou eu só, e mais ninguém.

Dão-se os lábios, dão-se os braços
dão-se os olhos, dão-se os dedos,
bocetas de mil segredos
dão-se em pasmados compassos;
dão-se as noites, e dão-se os dias,
dão-se aflitivas esmolas,
abrem-se e dão-se as corolas
breves das carnes macias;
dão-se os nervos, dá-se a vida,
dá-se o sangue gota a gota,
como uma braçada rota
dá-se tudo e nada fica.

Mas este íntimo secreto
que no silêncio concreto,
este oferecer-se de dentro
num esgotamento completo,
este ser-se sem disfarçe,
virgem de mal e de bem,
este dar-se, este entregar-se,
descobrir-se, e desflorar-se,
é nosso de mais ninguém.

António Gedeão

quarta-feira, 16 de julho de 2008

I'm in the mood for... (2)

... because sometimes it´s good to be knotty :p


Before you go and
Leave this town
I want to see you one more time
Put your dirty angel face
Between my legs
And knicker lace

Fight me, try me
Kiss me like you like me
Twist it round again and again

I want to run away with you
Your caravan and rabbit stew
Don't buy me candyfloss or bears
Swarfega fingers, I want you there

Fight me, try me
Kiss me like you like me
Twist it round again and again

Ride me, try me
Kiss me like you like me
Twist it round again and again
Twist it round again and again

Fight me, try me
Kiss me like you like me
Twist it round again and again

Fight me, try me
Kiss me like you like me
Twist it round again and again
Twist it round again and again
Twist it round again and again


"Twist" by Goldfrapp


terça-feira, 8 de julho de 2008

sábado, 5 de julho de 2008

Hoje o Círculo é bebé


... obrigado a todos pelas visitas... pelos comentários... e acima de tudo, pela paciência :)

sábado, 28 de junho de 2008

Já cá canta :D


... estes senhores estão cada vez melhores... com uma sonoridade ligeiramente diferente, arrisco-me a dizer que este é o seu melhor álbum ;)

quarta-feira, 18 de junho de 2008

A essência de um grito


"A voz esconde-se no fundo da garganta como um prisioneiro em fuga. Se engolir em seco consigo senti-la atrás da língua, logo depois de uma gargalhada obscurecida por uma dor que o tempo cimentou.

Por detrás da minha voz está guardado um grito espinhoso há muito prometido mas infinitamente adiado. A boca sangra com a violência do animal enraivecido que a habita. O chicote de dor alimenta o meu grito, tornando-o indomável e imprevisível. Quero gritar, quero tirar de dentro de mim este cancro de mágoas que me come por dentro como uma infecção desconhecida. Quero que este universo de desejos incompreendidos e desilusões de mármore desapareçam com a pele que me cai.

Perdi a minha voz por entre as palavras que ofereci em vão. Agora sobrou uma espécie de gemido que ninguém ouve. Sinto crescer no peito e subir pela garganta todo o bolo amargo das injustiças e traições que alimentam a minha raiva e minam a minha confiança. Quero sacudir dos meus ossos todas as lembranças que por lá ficaram cravadas como despojos de um conflito que o tempo apagou. Mas o campo de batalha continua activo com uma guerra que há muito se perdeu. Cada inspiração ressuscita um soldado que se recusa a morrer sem que lhe expliquem por que viveu. Cada luta armada não é uma vitória mas sim um tormento sem fim à vista. Mas continuamos a lutar, mesmo que saibamos que há muito o nosso papel nesta guerra deixou de ter importância. As batidas cardíacas há muito que perderam a vitalidade de outrora. Fomos consumidos pelo nosso desejo de nos conquistarmos por inteiro… sem dúvidas… sem remorsos… segurar nas mãos o interior mais profundo que nos habita.

Caminhamos na direcção que o sol aponta, tentando encontrar-nos em cada esquina, livres da culpa de sermos quem nunca desejámos ser. Quero fazer as pazes com a pessoa que me olha quando me cruzo com um espelho… a mesma que se derrama e esconde por entre todas estas palavras sem sentido…

O fumo negro escurece a vista. Para trás ficaram apenas os terrenos queimados por paixões que arderam depressa demais. Amores que o tempo enterrou na memória, esperando que deles floresçam as sementes de uma vida nova. Segredos confessados sob tortura de um amor não correspondido. Deslumbramentos irresponsáveis e destruidores que nos levam à beira do precipício e nos coagem a saltar para o conforto vazio e punitivo de frases bonitas e sorrisos ensaiados.

Quero que o sangue escorra por entre cada inflexão do meu grito e se transforme em vida e esperança, enquanto o mundo renasce em frente dos meus olhos e o meu grito se dissolve por entre a bruma dos dias. Cada entoação de sofrimento e raiva será música que a brisa transportará para lá de qualquer pensamento. Sentirei o medo, a frustração e a indiferença desaparecerem por entre uma espera que aprenderei a suportar.

O corpo maltratado recuperará e a voz voltará a ser apenas minha. A garganta deixará de doer, as mãos deixarão de tremer e o peito deixará de se contorcer em agonia. O meu grito jazerá para sempre por entre túmulos de arrependimentos vãos e finalmente a minha alma poderá regressar, deslizar por debaixo da pele e aconchegar-me cada nervo. O calor regressará e o coração voltará a bater com a fúria e convicção que sempre possuiu. Cada alegria será um abraço pronto para reconstruir cada pedaço do meu corpo e, um dia, quando o renascimento doloroso e lento tiver finalmente terminado, a essência do meu grito elevar-se-á das profundas e levar-me-á pela mão, em direcção à paz de espírito… a única casa que sempre quis."

quinta-feira, 5 de junho de 2008

I'm in the mood for... (1)

... eh pá... o que eu ando viciada nisto :D


Yeah Yeah Yeah

I love you
but I gotta stay true
my morals got me on my knees
I'm begging please stop playing games

I don't know what this is
but you got me good
just like you knew you would

I don't know what you do
but you do it well
I'm under your spell

You got me begging you for mercy
why won't you release me
you got me begging you for mercy
why won't you release me
I said release me

Now you think that I
will be something on the side
but you got to understand
that I need a man
who can take my hand yes I do

I don't know what this is
but you got me good
just like you knew you would

I don't know what you do
but you do it well
I'm under your spell

You got me begging you for mercy
why won't you release me
you got me begging you for mercy
why wont you release me
I said you'd better release yeah yeah yeah

I'm begging you for mercy
yes why won't you release me
I'm begging you for mercy

you got me begging
you got me begging
you got me begging

Mercy, why won't you release me
I'm begging you for mercy
why won't you release me

you got me begging you for mercy
I'm begging you for mercy
I'm begging you for mercy
I'm begging you for mercy
I'm begging you for mercy

Why won't you release me yeah yeah
break it down


"Mercy" by Duffy


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sexta-feira, 30 de maio de 2008

Saudade


Tenho saudade das férias de verão de 3 meses. Tenho saudade do cheiro da chuva. Tenho saudade do nervoso miudinho sempre que olhavas para mim. Tenho saudade das minhas calças à boca de sino. Tenho saudade do aconchego do abraço da minha avó. Tenho saudade do azul do céu às 10 da manhã. Tenho saudade da água do mar a arrepiar-me a barriga. Tenho saudade das tuas mãos a aquecerem-me a pele. Tenho saudade dos sonhos que sonhei.

Tenho saudade dos textos que escrevi e não publiquei. Tenho saudade de me estender ao sol na praia. Tenho saudade de ouvir as ondas levarem as minhas preces. Tenho saudade do cheiro do cigarro por acender. Tenho saudade das pastilhas de morango. Tenho saudade das gargalhadas dos meus amigos. Tenho saudade de me apaixonar. Tenho saudade do verde dos teus olhos. Tenho saudade de me deitar no campo a ver as estrelas. Tenho saudade das maratonas de cinema numa sala quase vazia. Tenho saudade das prendas que não te dei. Tenho saudade de ser derrotada pela chuva. Tenho saudade de todas as inúmeras primeiras vezes dos novos amantes.

Tenho saudade das cartas que me escreveste e rasguei. Tenho saudade de não chorar. Tenho saudade do futuro que pintei. Tenho saudade das palavras sábias do meu pai. Tenho saudade de todos os livros que não li. Tenho saudade do teu sorriso logo pela manhã. Tenho saudade do meu relógio carregado de horas sem fim. Tenho saudade dos longos banhos de imersão. Tenho saudade das conversas sem sentido no meio da rua. Tenho saudade do som dos sapatos sobre a terra. Tenho saudade do meu imaginário contrato vitalício com a felicidade. Tenho saudade de guardar no peito cada história tua. Tenho saudade do medo do escuro. Tenho saudade de descobrir música nova. Tenho saudade do interior da minha caixa de correio. Tenho saudade do cabelo que não cortei para te agradar.

Tenho saudade do apoio incondicional da minha mãe. Tenho saudade do toque do telemóvel. Tenho saudade de conhecer pessoas novas. Tenho saudade de ficar na cama o dia todo. Tenho saudade do reflexo do sol na água. Tenho saudade do vento no rosto. Tenho saudade do emprego ideal. Tenho saudade do cheiro do pão acabado de fazer. Tenho saudade do campo. Tenho saudade de beijos e carícias ardentes. Tenho saudade de quando a minha cadela cabia na palma da mão. Tenho saudade do sorriso de estranhos. Tenho saudade de passeios sem destino.

Tenho saudade de palavras de amor... Tenho saudade de não olhar para trás… Tenho saudade de não ter saudade… Tenho saudade… muita… de viver.

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Em contagem decrescente...

Enquanto o novo cd dos Coldplay, com o estranho título de "Viva La Vida or Death and All His Friend" não chega às lojas, podemos ir-nos consolando com o novo single "Violet Hill"... :D

segunda-feira, 19 de maio de 2008

O vazio do teu nome


"Escrevo o teu nome na areia e vejo-o partir com a espuma das ondas. Peço ao mar que te leve de vez para longe de mim, que retire daqui de dentro a peça do puzzle que te pertence. Sei que varreste de debaixo dos teus pés todos os cacos de quem sou. A minha alma pulverizou-se com o peso do teu corpo. Dizes que ouves música na tua cabeça, deve ser por isso que não ouves os gritos daqueles que deixas estendidos no percurso.

Apagaste-me do teu mapa como uma povoação que ninguém conhece. Gostaria de fazer o mesmo mas não posso. Memorizo tudo e como tal, não tenho borracha forte o suficiente para te apagar. Assinaste o meu corpo com tinta da china. Vives comigo mesmo que já não dê por ti. És o criador daquilo que hoje sou. Já não flamejas, aquilo que resta de ti mais não é do que uma memória tépida. Quero construir memórias novas. Existiu uma vida antes de ti e existe uma depois. Quero fazê-la brilhar. Quero poder dizer que o hoje é melhor do que o ontem e de que o amanhã será brilhante, porque cada dia que passa estou mais longe de ti. Deixei de ser mero estilhaço. Se olhares para trás e me procurares verás que já não estou onde me deixaste. No meu lugar ficou apenas a minha caixinha de sonhos. Quanto a mim, caminho por aí sem rumo por estradas que não conheces. Perdeste o direito à tua criação. Escorri-te por entre os dedos como água… e tu tão cheio de sede. Não penses que a tua suposta solidão te glorifica. Não sabes o que isso é… nunca te viste verdadeiramente sozinho… simplesmente saltas de muro em muro à procura da vista mais aconchegante. E quando os muros acabarem? Voltas atrás e tentas começar de novo? Nessa altura abrirás os olhos e pela primeira vez verás todas as vítimas da tua guerra… os dedos gelados da solidão irão percorrer-te o corpo e transformar-te em pedra… provarás o teu próprio remédio e a tua verdadeira voz desaparecerá por entre as frinchas do teu coração.

Escrevo o teu nome na areia e espero que o mar te leve. Ao largo vejo o navio inacabado que pensei estarmos a construir. A luz do sol rasga as nuvens e mostra-me todos os furos no casco… a água continua a entrar mas não o afunda… Mantém-se à tona como o último sobrevivente de uma batalha que aguarda a autorização do seu comandante para a viagem derradeira até ao mais profundo do mar. Vejo-te na proa, olhas em frente, certamente procurando outro cais onde atracar e construir o teu porto de abrigo… espero que o encontres e lances finalmente a âncora que todos os que te amaram construíram em conjunto só para ti…

Olho para a areia… o teu nome desapareceu… só cá ficaram as minhas pegadas, os grãos de areia e o esboço do meu nome que nunca ninguém escreverá…"

terça-feira, 13 de maio de 2008

Apetece-me recordar... (7)





... estou farta de gente falsa e mesquinha... just wake the fuck up!

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Nova oportunidade...



As batidas cardíacas são lentas e sem ritmo como uma brisa que deixa de soprar sem que notemos. O cansaço entranha-se por entre as fendas da alma e faz-nos esquecer de como se respira… de como se sonha… de como se vive… Cansaço das mesmas manhãs, tardes e noites… sempre os mesmos actores com guiões sem história… cenários aborrecidos e sem cor…

Subitamente o corpo quebra e a mente apaga-se... talvez já nada mais haja a dizer ou ninguém para ouvir… cada silêncio anula uma batida cardíaca… talvez mais não exista do que essa certeza de um caminho inaudível onde a paisagem não muda e nenhuma alma se cruza com a nossa… O silêncio tem destas coisas… A solidão tem destas coisas… O medo tem destas coisas… A indiferença tem destas coisas… A certeza vã tem destas coisas…

Quis forçar-me a acordar, a mudar o rumo do meu navio, mas o destino mantém-se o mesmo… terra de ninguém… nada desaparece… tudo se transforma… e aqui estou eu a meio do meu processo de transformação… talvez me misture de vez com o pano de fundo e cesse de existir por entre a poeira da estrada ou talvez me renove e renasça das chamas como uma fénix gloriosa na beleza da sua certeza de vida e da conquista de paz… talvez…

O cansaço permanece, mas se dantes era ininterrupto e castrador, hoje parece-me um pouco mais domado, viajando pelo meu corpo e alma em guinadas de dores paralisantes mas espaçadas… por entre cada espaço o ar parece circular e as palavras renascem num parto lento e doloroso… e aos poucos a brisa regressa pronta para ajudar a varrer o cansaço… e talvez depressa a brisa se transforme em vendaval e limpe a estrada de todo o entulho que não interessa guardar e o caminho surja um pouco mais leve e apetecível de percorrer… até lá…

P.S. – A todos aqueles que comentaram o meu último post, o meu muito obrigado pelo apoio… de coração :) … por enquanto o blog mantém-se… vamos ver até quando…

terça-feira, 8 de abril de 2008

The end?


Dado o meu actual estado de espírito, tenho vindo a contemplar seriamente a possibilidade de encerrar este blog. Perdeu-se algo que não sei identificar e por isso mesmo não consigo resgatar. Talvez seja apenas cansaço… Talvez seja mesmo o fim da linha… Ainda não me decidi…

sexta-feira, 4 de abril de 2008

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Poema do Homem Só

Sós,
irremediavelmente sós,
como um astro perdido que arrefece.
Todos passam por nós
e ninguém nos conhece.

Os que passam e os que ficam.
Todos se desconhecem.
Os astros nada explicam:
Arrefecem

Nesta envolvente solidão compacta,
quer se grite ou não se grite,
nenhum dar-se de outro se refracta,
nenhum ser nós se transmite.

Quem sente o meu sentimento
sou eu só, e mais ninguém.
Quem sofre o meu sofrimento
sou eu só, e mais ninguém.
Quem estremece este meu estremecimento
sou eu só, e mais ninguém.

Dão-se os lábios, dão-se os braços
dão-se os olhos, dão-se os dedos,
bocetas de mil segredos
dão-se em pasmados compassos;
dão-se as noites, e dão-se os dias,
dão-se aflitivas esmolas,
abrem-se e dão-se as corolas
breves das carnes macias;
dão-se os nervos, dá-se a vida,
dá-se o sangue gota a gota,
como uma braçada rota
dá-se tudo e nada fica.

Mas este íntimo secreto
que no silêncio concreto,
este oferecer-se de dentro
num esgotamento completo,
este ser-se sem disfarce,
virgem de mal e de bem,
este dar-se, este entregar-se,
descobrir-se, e desflorar-se,
é nosso de mais ninguém.

António Gedeão

terça-feira, 25 de março de 2008

Apetece-me recordar... (6)




Oh pá! As saudades que eu tenho disto... snif snif

sexta-feira, 14 de março de 2008

Hoje sinto-me assim... parte 7

Oh, for the sake of momentum
I've allowed my fears to get larger than life
And it's brought me to my current agendum
Whereupon I deny fulfillment has yet to arrive

And I know life is getting shorter
I can't bring myself to set the scene
Even when it's approaching torture
I've got my routine

Oh, for the sake of momentum
Even though I agree with that stuff about seizing the day
But I hate to think of effort expended
All those minutes and days and hours I have frittered away

And I know life is getting shorter
I can't bring myself to set the scene
Even when it's approaching torture
I've got my routine

But I can't confront the doubts I have
I can't admit that maybe the past was bad
And so, for the sake of momentum
I'm condemning the future to death
So it can match the past

When I can't confront the doubts I have
I can't admit that maybe the past was bad
And so, for the sake of momentum
I'm condemning the future to death
So it can match the past



"Momentum"
Lyrics by Aimee Mann


terça-feira, 4 de março de 2008

O príncipio do fim do princípio...

"Perguntas-te… o que será o princípio do fim?... e o fim do princípio?... Sentes que conheces qualquer um destes pontos de partida, mas não te recordas como. Estradas perpendiculares em cujo cruzamento terás de tomar uma decisão. Caminhar para o fim ou para o princípio?

Sentas-te no cruzamento e pensas na tua existência e no que fizeste dela. Apercebes-te que a morte que sentes dentro de ti é real. A imaginação abandonou o barco em que navegas há muito tempo e os sonhos passaram a ser preenchidos por pequenos conjuntos vazios.

Fechas os olhos com força e decalcas todos os passos que deste. E de súbito a verdade apresenta-se livre de todas as cortinas que teimavam em escondê-la. Tantas vezes olhaste naquela direcção e ela nunca se apresentou. Algures pelo caminho deixaste-te morrer. Ofereceste ao mundo que te rodeia a capacidade para te destruir. A tua falta de egoísmo coloca-te sempre em último lugar. A brisa fria e cruel da verdade faz-te abrir os olhos e mirar as estradas que podes percorrer. Começar de novo? Dar a caminhada por concluída? A capacidade que possuis para te levantar sempre que cais é superior àquilo que imaginavas, pois não foram os tropeções que deste que te destruíram. Mal ou bem sempre conseguiste sobreviver a tudo, até ao dia em que te apercebeste daquilo que te recusavas a ver. Não foi a morte de um ente querido que te matou. Não foi a traição que te matou. Não foi o amor não correspondido que te matou. Não foi a desilusão que te matou. Foi a indiferença que te cortou as asas e te mostrou que nunca soubeste voar. Sempre foste invisível. Passaste a ser confundível com o pano de fundo. Nunca desejaste destaque mas nunca esperaste tanto desprezo. A tua invisibilidade cegou-te e já não te vês. A amostra de vida que tiveste não passou de uma série de vislumbres que decidiste complementar com a tua imaginação. Vês o mundo através de uma janela porque desististe de bater à porta. Sobrevives na periferia da vida. Sabes que lá dentro nunca houve lugar para ti.

Ninguém vê. Partiste os espelhos à tua volta e enterraste com eles toda e qualquer vaidade. Castigas o corpo desejando intimamente que ele sucumba ao cansaço. Acordas de manhã sabendo que se desaparecesses naquele momento ninguém notaria. Arrastas-te para o trabalho mesmo que não te apeteça ver ninguém, porque o teu senso de responsabilidade injecta-te com a força que te obriga a mexer. Ao fim do dia gatinhas até casa. Pelo caminho escondes os olhos com livros e os ouvidos com música. Preferes ignorar o que te rodeia do que constatar mais uma vez que o que te rodeia te ignora. O mundo esqueceu-se de te colocar na sua engrenagem e tu já não queres aprender. Deixaste de esperar coisa alguma. Limitas-te a riscar os dias no calendário como quem faz palavras cruzadas.

Perdeste as armas para combater a solidão. Ela sempre lá esteve, corroendo-te as defesas, mesmo quando te recusavas a vê-la. Hoje em dia já não te consegues separar dela. Faz parte de ti. Já não consegues disfarçar a forma como te corrói a alma. Não respiras sem o seu consentimento.

Em criança quiseste mudar o mundo. Cresceste com a convicção de que tinhas algo para lhe oferecer. No fundo, pouco lhe deste… e nada mudou… O mundo não sabe que existes. Sempre preferiste os caminhos pouco iluminados. Limitaste-te a caminhar pela estrada que te pareceu melhor na altura. Não questionas as tuas escolhas, apenas esperas que deixem de te sufocar. Aprendes a viver com a dor e deixas de a combater. Já sabes reconhecer as causas perdidas e todos os seus vencidos anunciados e vencedores sem categoria.

Olhas à volta. Sabes a resposta ao dilema. No fundo sempre soubeste onde a tua caminhada te levaria… houve lições que aprendeste cedo demais e se ainda hoje repetes erros é porque gostas do sabor do sangue quando cais no chão pedregoso e sujo que resolveste trilhar… o caminho é sempre o mesmo… e cansa percorrê-lo… até lá há sempre o princípio do fim do princípio… e a escolha de um ponto de chegada…"


“Sinto-me tão isolado que sinto a distância entre mim e o meu fato.”
Bernardo Soares

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Músicas de outros tempos...

Pois é, fui desafiada ;)… O jnavarro lançou-me o desafio de partilhar as músicas que me acompanharam na infância e adolescência. Ui… tarefa difícil… parece ter sido há tanto tempo que tive quase de recorrer a uma sessão de hipnose.

Estranhamente, quando era miúda não era grande fã de música. Como não conhecia as bandas, limitava-me a ouvir aquilo que passava pela rádio ou tinha de “gramar” com as escolhas musicais da famelga. O que eu ouvi de Roberto Carlos e Neil Diamond! Credo… é só pensar neles que me começo logo a coçar. Quando reclamava, o meu pai punha a tocar um disco do qual não me recordo o nome nem o artista, mas que continha uma “música” composta apenas pelo barulho de chuva e trovoadas… eu e o meu primo tínhamos tanto medo daquilo que começávamos logo aos berros, ele chorava no colo da mãe, eu punha-me aos pontapés às colunas :D

Curiosamente, nunca fui muito ligada a músicas infantis. As únicas que me lembro de ter tido pertenciam a uma colecção da Disney que saía todos os meses. Eram uns livrinhos com histórias que vinham acompanhados de umas cassetes com músicas sobre as histórias. Não me recordo do nome da colecção, mas lembro-me que as cassetes eram verdes.

Assim sendo, quando penso na minha infância, não penso propriamente em bandas ou músicas de que gostasse, lembro-me apenas das músicas que se oiço hoje em dia, me transportam para aquele tempo. Entre vários, vem-me à cabeça The Wall dos Pink Floyd (que tinha de ser ouvida ao berros ou não teria o mesmo impacto hehe!), Final Countdown dos Europa, Take on Me dos A-Ha (pausa para o vómito), Thriller do Michael Jackson (talvez a única música de jeito que este tipo fez), Não há Estrelas no Céu do Rui Veloso, Wild Boys dos Duran Duran, Playback do Carlos Paião, A Casinha dos Xutos e Pontapés, Heart of Glass dos Blondie… and so on and so on…

Mas a minha vida mudou no dia em que uma amiga me emprestou um álbum dos Queen… o resto é fácil de adivinhar… apaixonei-me para sempre… os Queen ensinaram-me a ouvir música. Ainda hoje são uma referência para mim, o tempo passa e as músicas continuam tão frescas como no primeiro dia.

Com a adolescência vieram novos horizontes. A banda sonora daqueles tempos é composta para além dos Queen, pelos Bon Jovi (eu era completamente taradinha pelo Jon Bon Jovi lol), os U2, os Nirvana, os Xutos e Pontapés, os Metallica (se não ouvisse levava porrada lol), os Smashing Pumpkins, Alanis Morissette (o álbum Jagged Little Pill era o meu grito de guerra) e gostava imenso da estranheza das músicas dos Enigma (não sei porquê, mas achava aquelas músicas extremamente sexy lol). Mais tarde vieram os Oasis, Garbage, Aerosmith, Jewel (o álbum Spirit tocou até descarnar), Paula Cole, Diana Krall…

Apesar de ouvir músicas e bandas relativamente convencionais, lembro-me que já naquela altura gostava de descobrir sonoridades que estivessem um pouco longe das modas daqueles dias. Sem ter a quem recorrer, fazia a minha pesquisa através de filmes. Comprei cds e cds de bandas sonoras e foi assim que descobri The Doors, Them, The Cure, James Brown, Pavarotti, os fabulosos Radiohead, Michael Nyman e até mesmo Beethoven LOL… E seria através de um filme que eu seria “apresentada” a uma das minhas cantoras favoritas, Nina Simone. Ainda hoje recordo a sensação de ouvir Wild is the Wind pela primeira vez. Aquele poder visceral sempre mexeu comigo.

Enfim, escolhas boas, más e péssimas lol, mas foram as escolhas que me permitiram gostar daquilo que gosto hoje. E é melhor parar por aqui, senão daqui a pouco lembro-me de mais alguma música e não saio daqui… ai que está-me a vir à cabeça A Lambada… ai que horror!!!

Pensei em passar este desafio mas desisti da ideia. Há que ser realista, tenho poucos visitantes e ainda menos comentadores e visto que metade já foi desafiada e a outra metade não liga muito a estes desafios, deixo à escolha de cada um partilhar ou não a sua experiência…:)

E porque falamos de memórias, não resisto a deixar aqui um vídeo que me relembra aqueles dias em que o sol brilhava e a esperança era um prato cheio.


segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Hoje sinto-me assim... parte 6

Are you missing something?
Looking for something?
Tired of everything
Searching and struggling
Are you worried about it?
Do you wanna talk about it?
Oh, you're gonna get it right some time

There's so much to be scared of
And not much to make sense of
Are you running in a circle?
You can't be too careful
And you can't relate it
'Cos it's complicated
Oh, you're gonna get it right some time
You're gonna get it right some time

It's how you see the world
How many times can you see?
You can't believe what you learn

It's how you see the world
Don't you worry yourself
You're not gonna get hurt

Oooohhhhh...

Is there something missing?
There's nobody listening
Are you scared of what you don't know?
Don't wanna end up on your own?
You need conversation
And information

Ohhhhhhhhh...

Gonna get it right sometimes
You just wanna get it right sometimes

It's how you see the world
How many times have you heard?
You can't believe a word

It's how you see the world
Don't you worry yourself
'Cos nobody can learn

Oooooh
Oooooh
Ooooooooh

That's how you see the world
That's how you see the world


"How You See the World"
Lyrics by Coldplay


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segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

A Balança


“Gostava de te ver feliz.”

“E quando é que eu alguma vez fui feliz?”

Silêncio. Imenso.

Há coisas que não se dizem. Primeiro, porque há segredos que jamais se partilham. Depois, porque quem o ouve pode não entender e pedir uma explicação que disseque qualquer sentimento original. E por fim, porque poderá não ser a verdade. No fundo limitamo-nos ao dia a dia, mesmo que olhemos para o passado com regularidade. Se atravessamos um bom momento, até as coisas más do antigamente parecem ter um sabor especial. Dizemos, foi mau mas levou-me onde estou hoje. Se vivemos num sofrimento que começa a desenhar-se perpétuo, nada do que passou tem brilho. Borramos a carvão todas as memórias. Nem sequer sentimos saudades dos velhos eus que os anos viram passar. Todos foram morrendo deixando apenas pó negro que nos cega.

O meu olhar era desafiante ao mesmo tempo que mordia a língua. Era uma interrogação difícil de se fazer, especialmente se o comentário feito até tinha boa intenção. A mensagem era clara: A realidade é esta, aceita-a, e jamais te lembres de ter pena de mim. A pena oferece-se a quem dela precisa e merece. Guarda-a para aqueles cuja má sorte lhes debilita a vida. Aqui, será apenas desperdício. Não sabias? Sou a rainha do desperdício. Já deitei fora tanta coisa que valia a pena enquanto guardava a fruta podre. Ririas se soubesses. Tenho prazeres perversos e já não sei viver sem eles, como o de entregar o melhor de mim a quem apenas o vê como uma coisa boa onde limpar os pés. Não me contento com esboços. Prefiro o desenho verdadeiro mesmo que não seja nada bonito. Pelo menos contemplei-o antes de o tempo e o aborrecimento o destruírem. Tudo ou nada. Promessas infinitas têm o sabor do fel. O bolo com tão bom aspecto e que nos dá vómitos à primeira garfada.

A minha memória fotográfica e sensitiva vasculham tudo o que foi sendo armazenado e durante minutos penosamente curtos, revejo os momentos com que a vida me marcou. Nem tudo foi muito mau. Mas nada foi muito bom. Simplesmente foi. Aconteceu. E o que restou, decidi moldar à minha maneira. Já morri tantas vezes na praia, que pedi a uma rocha para guardar-me o lugar.

Afasta de mim essa tua felicidade. Só podes ser uma aberração. Ninguém se sente assim 24 horas por dia. Presumo que tal como a infelicidade, a felicidade não se sinta a cada momento. Torna-se um hábito como respirarmos. De vez em quando recebemos uns empurrões que nos fazem perceber qual o prato da balança que nos acomoda. O infeliz é-o por hábito. O feliz é-o por não saber ser outra coisa. Não invejo a tua felicidade. Aliás, nunca fui de invejar nada. Nem sei porquê! Mais um defeito de fabrico que o tempo não remendou. Mas tenho de confessar que me irrita. Se calhar nem sabes que o és, limitas-te a viver a vida, mas quem te vê e quem te ouve sabe que és feliz. Não o conseguirias esconder nem que o tentasses. Não me custa saber que há quem seja feliz, muito pelo contrário. Ainda bem. Mas dói-me olhar para o outro lado da balança e ver que, por vezes, o prato contrário fica tão próximo que consigo tocar-lhe com a ponta dos dedos. Mas a âncora que tenho dentro do peito mantém-me firme e os pés nem vacilam. Sempre quis os pés bem assentes no chão. Agora deixei de conseguir caminhar. Olho noutra direcção, desenho um sorriso e preparo-me para outro dia. Nada disto é novo, pergunto-me porque será que ainda não me habituei.

Silêncio. Imenso. Sempre."


segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

365 dias depois...

"Ano novo. Vida velha. Horas infinitas repletas de pequenos vazios tão familiares como o teu rosto. Não consegues evitar olhar para trás e procurar vestígios de vida no ano que acabou. Por muito que penses o contrário, ela existe. Não viveste os momentos com que sonhaste mas viveste outros. O coração bateu mesmo que lentamente. Sorriste inúmeras vezes. Gargalhaste umas quantas. Choraste mais vezes do que consegues contar. Sentiste. Mesmo sem o desejar, sentiste. Não és imune a quem te rodeia. Preferias que assim fosse. Seria mais fácil encarares o vazio sem que nada conseguisses sentir. Não haveria tristeza. Não haveriam delírios com uma felicidade que só os iludidos conquistam.

Nunca gostaste de passagens de ano, nem mesmo quando tinhas algo a desejar. Aquela mudança no relógio realçada com explosões de alegria e raios de luz dos fogos de artificio, sempre te angustiaram. O fim de algo. O começo de mais uma jornada incógnita. Com o passar dos anos foste-te apercebendo do teu erro. Pouco vias quando ousavas olhar para trás e já nada querias quando pensavas em frente. Cada passagem de ano vias-te com os mesmos pensamentos e desejos que no ano anterior. Há precisamente um ano atrás, querias acreditar que talvez nesse novo ano a tua vida finalmente começasse e pudesses ser feliz de uma forma que fizesse sentido, mesmo que mais ninguém o entendesse. Mas aqui estás tu em modo repetitivo. Mais uma vez… nada…

Há quem celebre mais um ano que acabou e as coisas que com ele vieram. Outros anseiam pelo que agora começa, sonhando com visões de encantamento. Ouves o exaltamento de todos à tua volta, mas não te mexes. Gostarias de ignorar a data, mas não consegues. O teu espírito destrutivo força-te a analisar o ano que agora te deixa. Estás exactamente onde estavas há um ano atrás. Constatas que durante este ano perdeste a fé em alguns dos teus amigos e já não acreditas que alguma vez os voltes a ver. As suas vidas levaram-nos para longe de ti. E onde eles estão não consegues alcançar. No entanto, descobres amigos onde menos poderias esperar, logo no momento em que te apercebeste que o teu caminho era um caminho solitário. Não consegues evitar que eles se apoderem dos teus sentimentos. Mas tens medo. É mais forte do que tu esperar pelo momento em que te abandonarão. É tudo o que conheces. Do amor não esperas mais nada. Deixaste de aceitar migalhas. Por muito que te magoe já sabes o caminho de cor e salteado. Descobriste-o no dia em que te destruíram. Ainda julgaste poder contrariá-lo, mas sabes hoje que tal é impossível.

Sofres mas preferes esconder cada gota de sofrimento, para que ninguém se aperceba dele. É a tua tortura preferida. No meio do peito tens uma ferida que não sara. Cada golpe que a vida te oferece é desferido sempre no mesmo local, para que jamais possa cicatrizar. Enganaste-te ao julgar que te habituarias a ela e que por isso deixaria de doer. Dói cada vez mais e rouba-te das forças que necessitas para sonhar. Quando convives com as pessoas de quem gostas esqueceste da dor, mas ela permanece lá e atinge-te como uma onda quando te vês novamente só. Ela é soberana e rouba-te um bocadinho de ti a cada dia que passa. Paras por um momento e olhas para a chuva que cai. Tu sabes a verdade mesmo que tentes escondê-la. Possuis uma ferida mortal. Morrerás por ela, mesmo que o teu coração continue a bater e os pulmões se encham de ar. O teu corpo muda. Todos os dias descobres um osso novo. Os teus olhos vivos vão perdendo o brilho de outrora, tornando-se baços e bocejantes. A tua alma deseja abandonar-te para não mais voltar. Mas tu não deixas. Tratas da ferida e procuras acalmar a sua raiva. Ainda não, dizes. Ainda não. Permaneces à espera… não sabes de quê nem para quê, quando no fundo sabes que nada virá… mas não desistes de esperar… ainda…"