sexta-feira, 30 de maio de 2008

Saudade


Tenho saudade das férias de verão de 3 meses. Tenho saudade do cheiro da chuva. Tenho saudade do nervoso miudinho sempre que olhavas para mim. Tenho saudade das minhas calças à boca de sino. Tenho saudade do aconchego do abraço da minha avó. Tenho saudade do azul do céu às 10 da manhã. Tenho saudade da água do mar a arrepiar-me a barriga. Tenho saudade das tuas mãos a aquecerem-me a pele. Tenho saudade dos sonhos que sonhei.

Tenho saudade dos textos que escrevi e não publiquei. Tenho saudade de me estender ao sol na praia. Tenho saudade de ouvir as ondas levarem as minhas preces. Tenho saudade do cheiro do cigarro por acender. Tenho saudade das pastilhas de morango. Tenho saudade das gargalhadas dos meus amigos. Tenho saudade de me apaixonar. Tenho saudade do verde dos teus olhos. Tenho saudade de me deitar no campo a ver as estrelas. Tenho saudade das maratonas de cinema numa sala quase vazia. Tenho saudade das prendas que não te dei. Tenho saudade de ser derrotada pela chuva. Tenho saudade de todas as inúmeras primeiras vezes dos novos amantes.

Tenho saudade das cartas que me escreveste e rasguei. Tenho saudade de não chorar. Tenho saudade do futuro que pintei. Tenho saudade das palavras sábias do meu pai. Tenho saudade de todos os livros que não li. Tenho saudade do teu sorriso logo pela manhã. Tenho saudade do meu relógio carregado de horas sem fim. Tenho saudade dos longos banhos de imersão. Tenho saudade das conversas sem sentido no meio da rua. Tenho saudade do som dos sapatos sobre a terra. Tenho saudade do meu imaginário contrato vitalício com a felicidade. Tenho saudade de guardar no peito cada história tua. Tenho saudade do medo do escuro. Tenho saudade de descobrir música nova. Tenho saudade do interior da minha caixa de correio. Tenho saudade do cabelo que não cortei para te agradar.

Tenho saudade do apoio incondicional da minha mãe. Tenho saudade do toque do telemóvel. Tenho saudade de conhecer pessoas novas. Tenho saudade de ficar na cama o dia todo. Tenho saudade do reflexo do sol na água. Tenho saudade do vento no rosto. Tenho saudade do emprego ideal. Tenho saudade do cheiro do pão acabado de fazer. Tenho saudade do campo. Tenho saudade de beijos e carícias ardentes. Tenho saudade de quando a minha cadela cabia na palma da mão. Tenho saudade do sorriso de estranhos. Tenho saudade de passeios sem destino.

Tenho saudade de palavras de amor... Tenho saudade de não olhar para trás… Tenho saudade de não ter saudade… Tenho saudade… muita… de viver.

4 comentários:

Catwoman disse...

Saudades

Saudades! Sim... talvez... e porque não?...
Se o nosso sonho foi tão alto e forte
Que bem pensara vê-lo até à morte
Deslumbrar-me de luz o coração!

Esquecer! Para quê?... Ah! como é vão!
Que tudo isso, Amor, nos não importe.
Se ele deixou beleza que conforte
Deve-nos ser sagrado como pão!

Quantas vezes, Amor, já te esqueci,
Para mais doidamente me lembrar,
Mais doidamente me lembrar de ti!

E quem dera que fosse sempre assim:
Quanto menos quisesse recordar
Mais a saudade andasse presa a mim!

Florbela Espanca


Adequadas ou não, as palavras da Florbela Espanca pareceram-me melhores do que as minhas, porque não sabia o que dizer...talvez apenas: continua a escrever e acredita, como já te disse várias vezes, que estes textos são bons o suficiente (mais do que bons) para verem a luz do dia em outras paragens...

Beijinhos

Anónimo disse...

Eu tinha saudades dos teus textos... e continuo a ter mesmo depois de me consolar a ler o teu mais recente post.

Um beijo

Joana Roque Lino disse...

fizeste-me ter saudades ;) de tantas coisas... um beijinho grande.

Miss Vesper disse...

é boa a saudade de ter saudade, sobretudo do tempo em que o maior problema era ter demasiado tempo...dos momentos em que acordar era o ponto alto do dia, e não o peso do deitar de insónia assombrado com o dia seguinte... de uma fase em que crescer não significava perder e ganhar, mas apenas crescer...dos moinhos de vento de plástico, que segredavam segredos num sopro... de poder escrever cartas de amor... de respirar fundo...

e escrevi isto porque fiquei retida nas tuas palavras... Palavras que por mais que teimes, ficam, nao fogem, ficam retidas. continua a escrever, por favor nunca deixes de o fazer, e respira fundo !

;) beijinhos