terça-feira, 31 de julho de 2007
quarta-feira, 25 de julho de 2007
Fragmentos de nada

Sentia a raiva e o ódio apoderarem-se de cada músculo seu. Ela continuava ali, debaixo da pele. A picada incessante que não se consegue aliviar. A comichão logo onde o braço não chega. Já tinha sido magoado antes e ele próprio já tinha feito as suas vítimas. Mas isto era novo. Apaixonara-se perdidamente aos 18 anos. Tudo o que viveu foi intenso e marcante, mas o fogo extinguiu-se. Tal como começou, acabou. Passou a acreditar que dali em diante estaria salvo dos meandros do coração humano.
Durante anos, muitas mulheres se seguiram, mais do que as que gostaria de lembrar. Na maioria das vezes procurava apenas um momentâneo conforto físico. Alguém que lhe suavizasse as dores da sua alma. Outras vezes desejava apaixonar-se novamente, mas ao longo dos anos foi-se convencendo de que não era capaz. Ou simplesmente já não o sabia fazer. Talvez devesse ter valorizado aquele que julgava ter sido o seu único amor.
Até que ela surgiu. Num dia como qualquer outro cruzaram-se no supermercado. Só a tinha visto uma vez, sabia que tinha acabado de alugar o apartamento do 5º andar. Não lhe tinha prestado muita atenção e naquele momento em que a observava a escolher uma garrafa de vinho com um ar perdido, compreendeu porquê. Ela não fazia o seu tipo. Era o tipo de mulher para quem não olharia duas vezes. Era tão alta como ele, com um corpo cheio de curvas e os longos cabelos pretos amarrados num descuidado rabo-de-cavalo. Ele gostava delas com um compleição mais frágil, faziam-se sentir-se forte. Ofereciam-lhe a ilusão de ser adorado e até, quem sabe, amado. O eterno protector. Mulheres como ela faziam-no querer afastar-se. Pareciam não precisar de provar nada a ninguém, nem esperar nada de alguém. Ou não tinham qualquer vaidade, ou sabiam bem demais o poder que tinham e não necessitavam de o evidenciar.
Durante os meses que se seguiram o contacto tornou-se inevitável. Saíam ao mesmo tempo para o trabalho e sentiam-se obrigados a cumprimentarem-se. Os cumprimentos deram origem a conversas. Das conversas nasceram convites para jantar. Os jantares abriram caminho à amizade. Também ela se achava incapaz de voltar a amar, tinha sido traída e o amargo gosto do abandono tinha-lhe roubado a parte do coração capaz de sentir.
Sem que nenhum dos dois o compreendesse, a atracção tão pouco provável de início, foi crescendo, mesmo por entre os defeitos que faziam questão de apontar um ao outro. Ele era arrogante e convencido. Ela era fatalista e malcriada.
A sua imagem no espelho ia ficando desfocada. Precisava de comer qualquer coisa. Mas antes precisava de aniquilar qualquer vestígio dela. O seu calor ainda lhe percorria as veias. O sabor dos seus beijos ainda lhe invadia a boca. Bastava-lhe fechar os olhos para se recordar de cada sensação, de cada toque, de cada curva. Durante meses alimentaram-se um do outro, encontrando conforto para os seus corações vazios. Mas já não havia nada que o saciasse… apenas ela…
Odiava-a. Mulheres como ela tinham o poder de destruir um homem. Ela era a pior das mulheres. Pela calada das noites de amor e dos dias de cumplicidade, roubou-lhe a única coisa verdadeiramente sua, o seu coração. O tal que jamais bateria por outra mulher e agora se entregava a uma como nunca o havia feito na vida. De modo descomprometido e suave, obrigou-o a apaixonar-se por ela. Mas por cada batida do seu coração, o dela desligava-se mais um pouco, até ao dia em que deixou de bater para ele. Conforme entrou, assim saiu da sua vida, sem uma explicação, sem um raio de esperança.
Rasgou os lençóis. Tudo o que lhe lembrava ela, tinha de desaparecer. Algumas peças de roupa que ainda mantinham o seu cheiro. Os óculos de sol esquecidos em cima da mesa. Dentro da gaveta, um frasco de verniz preto. Os livros que lhe ofereceu. Os retratos dele que desenhou. O creme. Os sapatos. Uma meia perdida numa cadeira. O seu riso gravado numa mensagem de telemóvel. Via agora que se tinha habituado a tudo nela, principalmente às pequenas coisas. Até as paredes do seu pequeno apartamento pareciam mais bonitas e aconchegantes do que as suas. Sentia saudades daquela decoração em que nada combinava com nada mas tudo combinava com ela. Cada memória, cada momento a dois tinha de ser apagado para sempre. Talvez ao empacotar as suas coisas a conseguisse separar de si. Talvez ela simplesmente se evaporasse por entre cada objecto e de um momento para o outro deixasse de ter existido na sua vida.
Odiava-a. Amava-a. Odiava-a. Amava-a. Odiava-se por amá-la. O amor e o ódio entrelaçam-se nas fundações da essência humana. Durante quanto mais tempo aquele fogo faria questão de o consumir por dentro? Ele sabia que enquanto isso acontecesse, ela estaria sempre ali com ele. E assim, despejou todas as suas coisas em cima da cama e junto a elas adormeceu. Teria de esquecê-la, nem que para isso levasse a vida inteira.”
segunda-feira, 23 de julho de 2007
Hoje sinto-me assim... parte 1
The only one that I have ever known
Don't know where it goes
But it's home to me and I walk alone
I walk this empty street
On the Boulevard of Broken Dreams
Where the city sleeps
And I'm the only one and I walk alone
I walk alone
I walk alone
My shadow's the only one that walks beside me
My shallow heart's the only thing that's beating
Sometimes I wish someone out there will find me
'Til then I walk alone
I'm walking down the line
That divides me somewhere in my mind
On the border line
Of the edge and where I walk alone
Read between the lines
What's fucked up and everything's alright
Check my vital signs
To know I'm still alive and I walk alone
I walk alone
I walk alone
My shadow's the only one that walks beside me
My shallow heart's the only thing that's beating
Sometimes I wish someone out there will find me
'Til then I walk alone
I walk alone
I walk alone
I walk this empty street
On the Boulevard of Broken Dreams
Where the city sleeps
And I'm the only one and I walk alone
My shadow's the only one that walks beside me
My shallow heart's the only thing that's beating
Sometimes I wish someone out there will find me
'Til then I walk alone...
"Boulevard of Broken Dreams"
Lyrics by Green Day
sexta-feira, 20 de julho de 2007
Sonoridades (1)
Foi com surpresa que descobri que para além de compositor a solo, Santaolalla tem uma banda, a Bajofondo Tango Club. Com uma sonoridade diferente daquela a que Santaolalla nos habituou, os Bajofondo Tango Club apresentam uma mistura entre tango e funk, com laivos de algum hip-hop... algo entre Kinky e Gotan Project... eu sei, a descrição não é das melhores, mas acho sempre difícil descrever as coisas que se entranham em nós sem que saibamos porquê, acreditem apenas que as músicas são seguramente melhores do que a medíocre descrição que aqui fiz.
Para quem quer um "cheirinho", aqui ficam três grandes músicas. As duas primeiras pertencem à banda em questão, já a terceira, e uma das minhas favoritas de sempre, é de Gustavo Santaolalla a solo e pertence à banda sonora do fantástico filme de Michael Mann, O Informador.
Perfume
Miles de Pasajeros
Iguazu
terça-feira, 17 de julho de 2007
Mil folhas
Num desafio proposto pela minha amiga Olivia, tenho agora a complexa tarefa de enumerar os últimos cinco livros que li. Pois é… como leitora compulsiva que sou, leio de tudo um pouco, algumas vezes acerto, outras, dou um tiro em cheio no pé. De qualquer das formas, para mim ler será sempre um prazer. E é algo sem o qual, simplesmente, não consigo viver. Assim sendo, aqui ficam então os cinco ilustres…
─ A Traficante de Crianças – Gabrielle Wittkop
─ Tudo o que temos cá dentro – Daniel Sampaio
─ Portugal Hoje, o Medo de Existir – José Gil
─ A Filha da Floresta – Juliette Marillier
─ A Morte sem Nome – Santiago Nazarian
Para não quebrar a corrente, e também como modo de alimentar a minha própria curiosidade hehe, passo o testemunho desta cadeia a:
• Pinguim: why not now
• Cris: movieplayground
• Catwoman: the doll house
• Senhor do Mundo: lá porque não tens blog, não penses que te safas ;)
Beijocas gordas a todos :)
sexta-feira, 13 de julho de 2007
Partiste

segunda-feira, 9 de julho de 2007
Puritanos de meia tigela
As coisas que esta gente se lembra de atacar…
Durante a semana passada a Comissão Europeia lançou um vídeo promocional do cinema europeu. Imediatamente, os falsos puritanos, que ultimamente parecem nascer que nem cogumelos na nossa sociedade, fizeram ouvir a sua voz. Logo contestaram a escolha do teor do mesmo, só porque o vídeo em questão é composto por uma série de imagens de cariz sexual que, segundo eles, são totalmente desadequadas.
Que a Comissão Europeia escolha um tema destes para promover o seu cinema parece-me mais do que arrojado, bastante inteligente, afinal não há nada que venda melhor do que sexo. O que me espanta é que uns quantos “senhores sérios” venham a público criticar um mero vídeo (parece-me falta do que fazer!) e a Comissão ainda lhes dê trela. Foi triste ver um representante desta instituição tentando justificar-se perante os jornalistas. Depois de tantas perguntas idiotas e respostas evasivas, cheguei à conclusão que afinal o problema não reside nas imagens do vídeo, mas sim no seu título, “Lets come together”. Ao que parece o significado da palavra come deixa-os um nadinha confusos…
Pena é que não se revoltem com o excesso de violência que por aí se vê em qualquer meio de comunicação. Mais parece que as imagens de carnificina na Faixa de Gaza ou no Iraque são perfeitamente aceitáveis, ou que a fome em África é algo que já não revolta ninguém.
Alguém uma vez disse que as pessoas não se chocam com a violência porque esta faz parte do ser humano. Ao que eu pergunto: e o sexo não? Assim sendo, aqui fica o tão falado vídeo. Let’s come together… ora vamos sim senhor!
sexta-feira, 6 de julho de 2007
Há dias assim...
Ontem foi um dia difícil. Uma das minhas colegas de trabalho morreu. E eu fui a primeira a sabê-lo. Fui a primeira a carregar o peso da fragilidade alheia. Se ao menos não tivesse atendido aquele maldito telefonema… Se não tivesse prestado qualquer atenção à voz monocórdica do polícia que ligou… Talvez tenham lido nas notícias sobre a morte de uma senhora na estação de metro de sete rios. Um dia igual a tantos outros que acabou por se tornar único.
Apesar de termos feitios difíceis, dávamo-nos muito bem e, trabalhando 8 horas por dia na mesma sala, era inevitável que a amizade nascesse. Acabei por, inadvertidamente, tornar-me numa espécie de neta postiça, daquelas a quem dão pequenas ofertas fora das festividades e sobretudo muito apoio. Acho que esgotei os meus nervos para o resto do ano. Daqui para a frente vai parecer que vivo meramente de Xanaxs. O “então até amanhã” que me ofereceu ao final do dia anterior ainda agora martela nos meus ouvidos. E eu, que estava tão embrenhada na construção deste espaço, apenas soltei um rápido “adeus” sem tirar os olhos do monitor… Era uma senhora com espírito forte e parecia “vender saúde”. Sempre achei que ainda nos enterraria a todos, mas sábado somos nós que lhe dedicamos um último adeus. Para mim, foi mais uma amiga que perdi, a única que tinha aqui no emprego.
A vida continua. A senhora que se recusava a ensinar o seu trabalho a alguém tentando em vão alimentar a ilusão de que era insubstituível, vê o seu trabalho ao abandono e sente-se vingada. Mas o tempo passa mesmo quando não queremos. Os longos minutos vão acalmando nervos, secando lágrimas, conformando corações… e então, numa hora como qualquer outra, alguém pega no seu trabalho e por entre muito stress, confusão e medo de falhar por agora executar duas funções de responsabilidade, tudo o que parecia indecifrável começa a ganhar sentido… e subitamente, aos poucos e poucos tudo se vai fazendo… pequenos passos, um de cada vez, mas sempre em frente. A cadeira que parecia insuportavelmente vazia já tem novo ocupante. Dói-me que esse ocupante seja eu.
quinta-feira, 5 de julho de 2007
Welcome
Welcome into my lair… where everything is possible… step inside and maybe you’ll feel something you’ve never felt before… just relax… breathe… think… feel… but ultimately… enjoy