quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

A luz


Gostaria de poder afirmar convictamente “Ano novo, Vida nova”. Apesar da mudança de calendário nada significar para mim, após um 2008 verdadeiramente mau e depois de uma altura em que estive bem perto de não ver nascer 2009, foi-me difícil ignorar a data. Desde então que enveredei por uma luta diária e solitária para evitar deixar-me entregar a um sentimento de derrota que infelizmente conheço bem demais. Não sou especial e muito menos única. Sei que de uma forma ou doutra todos nós sofremos ao longo da nossa vida. Mas sei também que existem momentos na vida de cada um em que a dor é tão forte que bloqueia qualquer tentativa de auto-defesa. Sobra apenas o pânico e o vazio de se saber morto antes do tempo e enquanto o corpo ainda funciona. Seria efectivamente mais fácil culpar o mundo inteiro pela forma como me faz sentir. Poderia citar os nomes de todas as pessoas que de uma forma ou doutra contribuiram para aquilo que hoje sou, seja isso bom ou mau. Mas ao contrário de muitos nunca gostei de empurrar para cima dos outros uma culpa que no fundo me pertence. A minha batalha comigo mesma é já longa e sem fim à vista. Todas as desilusões que sofri foram causadas pela minha vontade de querer acreditar em mentiras que o coração reconhecia. Cada sonho desfez-se pela minha incapacidade de esquecer qualquer escrúpulo e lutar por ele como se não houvesse amanhã. Neste caso, o lugar comum aplica-se, no amor e na guerra vale tudo. Poderia dizer que se alguém me tratou como lixo, foi porque deixei, quis acreditar que teria de existir alguém neste mundo que fosse capaz de retribuir amor e alimentei-me de mentiras. Se no fundo as pessoas não gostam de mim, a culpa será minha porque não correspondo a um qualquer critério que de mim exigem.

Esta sou eu... no melhor e no pior. Não gosto de hipocrisia, falsidade e acima de tudo paternalismo. Tendo a ser leal demais mesmo que acabe a lutar contra mim mesma. Não me encanto com facilidade por isso quando o faço é para a vida. Custa-me sobreviver quando perco alguém, especialmente se me abandonam sem que nunca saiba porque o fizeram. Não sou optimista no que diz respeito a cada aspecto da minha vida mas acredito e defendo como ninguém a felicidade das pessoas de quem gosto. Sonho alto demais e acordo sempre no fundo de todas as escadas. No amor não gosto de meias medidas, para mim é tudo ou nada. Sou insegura, sinto sempre que vou meramente existindo na vida das pessoas até que encontrem alguém mais valioso pelo qual me trocarem. Sou intolerante com os intolerantes. Perdoo depressa demais mas nunca consigo esquecer. Odeio pessoas que se adoram a si próprias e vivem para ouvir o som da sua própria voz. Tenho medo de viver indefinadamente sem luz... Sempre quis encontrar o sítio onde pertenço, e finalmente entregar-me a uma paz de espírito que me foge. Poderia escrever tanta coisa... acho que me é mais fácil apontar os defeitos do que as qualidades se é que elas existem. Seja como for, tudo isto pouco interessa.

Hoje em dia não espero grande coisa dos meus dias. Acho que no fundo nunca esperei. Simplesmente concentro-me em dar um passo de cada vez para que o negro de onde vou saindo vagarosamente não me conquiste novamente. A solidão é a minha única e verdadeira companhia, aquela que caminha incansavelmente ao meu lado quer chore ou sorria. É a única coisa presente nos meus dias e será a última coisa que verei no meu último dia. Sei-o. Sabê-lo é a parte fácil, aceitá-lo é que é difícil.

Nem sei bem o porquê deste texto. Talvez por ter levado tanto tempo a voltar a escrever e a postar, nada poderia pôr aqui que não fosse o mais básico de mim. Inúmeras vezes tenho ponderado a ideia de encerrar este blog ou então lavar-lhe o rosto e os conteúdos, mas a minha decisão de momento é a de o manter. Para mim este espaço sempre foi uma espécie de caderno de recordações compartilhado com outros. Escrevo coisas boas e coisas más. Enveredo cruamente na minha realidade, outras vezes dedico-me à ficção. Partilho aquilo de que gosto. “Falo” sobre o que quero. O meu blog sempre foi uma pequena projecção de mim. Nunca criei este espaço com o intuito de “conquistar” seja quem for. Sei que é impossível agradar a toda a gente a toda a hora do dia, por isso limito-me a ser quem sou... Quem gosta, gosta, quem não gosta ponha à borda do prato. Por isso, a todos os resistentes que ainda por aqui navegam o meu muito obrigado pelo apoio e carinho :)... por enquanto vou mantendo-me por aqui... e com uma nova resolução de ano novo... encontrar simplesmente a minha luz ;)

Beijinhos a todos

4 comentários:

Catwoman disse...

É muito difícil para mim comentar alguns dos textos e este em particular. Não porque não tenha nada para dizer mas simplesmente porque nos conhecemos tão bem e há tanto tempo que sei tudo o que escreveste sem serem precisas palavras. Tal como tu tens "diálogos" em silêncio com coisas que digo ou escrevo. E por isso sei que tudo o que escreveste aqui é autêntico e verdadeiro. E demonstra uma força de carácter que tens mas que muitas vezes não vês. Eu vejo. E estou aqui, para o que for preciso, como sempre.

Beijinhos

Anónimo disse...

Anita, estive a ler este texto com muita atenção, e, tal como diz a Catwoman, é-me difícil comentar de outra forma que não seja dizer que continuo contigo, que a luz está mesmo aí e sente-se brilhar, e que quando menos esperares a intensidade se fará sentir. Grande beijo!

Vasco (ex Arion)

Miss Vesper disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Miss Vesper disse...

conheço perfeitamente o sentimento de abismo. sempre vivi nesse intermédio. um pé em terra, equilibrando-se pelo outro que já pesa sobre a falésia. sempre me senti demasiado sensível como quem olha para uma gota de chuva e espreme toda a sua intensidade quando toca no chão. enquanto outros apenas vêem chuva, um mero aglomerado de gotas de água, eu vejo proximidade, intimidade.

mais do que tudo isto, eu vejo-te. e não preciso de palavras que confirmem o quanto sofres. vê-se. vê-se, por mais que tentes esconder por debaixo de umas quantas gargalhadas, sempre máscaras e não enquanto expressão de vontade de rir, tu sofres. sofres porque queres viver. embora penses o contrário, não sobrevives apenas, vives. e por isso sofres. mas não precisas de sofrer mais do que aquilo que te é forçado por circunstâncias externas incontornáveis. não precisas nem mereces.

podes achar que não és única, mas és. todos somos. até os gémeos são únicos. e além deste lado meramente biológico há toda a força com que te descreveste num EU. e esse teu eu encontrou a resolução a partir de agora: encontrar a sua luz. não desistas a meio. e não precisas de percorrer o caminho todo sozinha.

por favor não te deixes contaminar por esta mania do mundo globalizante de que todos temos de ser carneiros e de que todos temos de ter um plano traçado com 15 contingências à parte. simplesmente há quem não tenha um plano e que vá seguindo os passos à medida que anda. não precisas de saber o que queres. deixa-te ir. remar contra maré é demasiado cansativo, desgasta como tudo.

eu sei que também o faço e a mim o devo. não consigo perceber de onde vem, mas vem de dentro este sentimento de estranheza, de ser inadequada. confesso que por vezes me sinto doente mental. mas é por sentir e por saber que te digo que por vezes quando dizemos "oh fuck it", alguma coisa muda e mesmo que seja apenas a percepção, já é uma mudança. e no dia seguinte já sentes o sol mais próximo, a tua luz. tenta dizer "oh fuck it" mais vezes. porque cada instante é demasiado valioso... as vezes estamos tão distraidos e auto-absorvidos e acabamos por perder tudo. não deixes acontecer isso... say after me "oh fuck it".

e ja sabes estou a um telefonema de distância.


desculpa por um testamento talvez insipido e pouco relevante.


queria apenas que soubesses isto : I do care.

beijinhos grandes