terça-feira, 22 de dezembro de 2009

O que tu és...

És Aquela que tudo te entristece
Irrita e amargura, tudo humilha;
Aquela a quem a Mágoa chamou filha;
A que aos homens e a Deus nada merece.

Aquela que o sol claro entenebrece
A que nem sabe a estrada que ora trilha,
Que nem um lindo amor de maravilha
Sequer deslumbra, e ilumina e aquece!

Mar-Morto sem marés nem ondas largas,
A rastejar no chão como as mendigas,
Todo feito de lágrimas amargas!

És ano que não teve Primavera...
Ah! Não seres como as outras raparigas
Ó Princesa Encantada da Quimera!...


Florbela Espanca

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Estou rendida a isto ;)

Após um longo período de ausência decidi regressar a estas paragens... não sei se ainda existe alguém desse lado com paciência para me visitar... seja como for, I'm still here... breathing...

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

...

... para mim, talvez a melhor cena de "Sinedoque, Nova Iorque"...

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Melodias incertas


De tanto bater o meu coração parou... Para uns não passa de uma frase bonita mas sem sentido. Para outros, o título de um filme. Para outros ainda, o diagnóstico de uma morte há muito anunciada... Haverá vida antes da morte? Ou tudo isto que nos rodeia e agita não passa de projecções de mentes famintas de emoções?

Cada nova sensação, cada novo acontecimento surge-nos como uma lufada de ar fresco num dia a dia recheado pelos mesmos odores que aprendemos a conhecer de cor. O cheiro da rotina. O cheiro do medo. O cheiro da certeza. Mas, subitamente e por uns breves momentos, reaprendemos a respirar. O peito expande-se. O pulmões enchem-se de ar e de esperança. E o coração, esse orgão feio e desproporcional, romantizado até à exaustão, ergue a sua batuta e define um novo ritmo. A vida começa onde o convencional acaba.

Alegria. Tristeza. Amor. Dor. Experimentamos um pouco de tudo ao longo desta vida, ou pelo menos, tentamos. Corações expostos sem a armadura que só a vida constrói. A inocência da infância e da adolescência leva-nos a abrir o peito a tudo e a todos sem pensarmos nas infecções que provocam e que só o esquecimento ensina a sarar. Alguns batem somente para receber, como senhores de reinos místicos e desertos. Outros vivem em permanente saldo negativo, dando sem parar e jamais recebendo a recarga necessária à sua sobrevivência.

Sempre me perguntei o porquê de associarem o amor ao coração humano, especialmente, se considerarmos a diferença entre aquilo que pulsa dentro de nós e as suas desencantadas representações nos cantos das páginas que guardam os nossos segredos. Se amamos com o corpo todo, porque só o coração ganha com mérito? Mesmo destruído impõe-se como um vencedor. Será porque é o único orgão sem o qual jamais podemos funcionar? Talvez. Ou será porque não passa de um emaranhado de sangue, nervos e convulsões, como tudo o que é autêntico? Provavelmente. Tudo em nós ama e só depois de mortos é que temos autorização para deixar de o fazer...

Nada mais somos do que seres orgânicos a quem foi oferecida a benção de pensar. Tudo o resto é química, seja lá o que isso for. Porque sorrimos? Porque choramos? Porque contemplamos a nossa própria mortalidade? Porque amamos? Tudo é inexplicável e, talvez por isso, tão belo... Procuramos significados onde não existem. Exigimos que nos apresentem um guião que possamos seguir indiscutivelmente. Voamos sem asas. Sonhamos sem dormir. Amamos sem sentir. As fórmulas científicas de nada servem. Aquilo que sentimos ultrapassa a nossa vontade. Vivemos presos. Alguns, prisioneiros dos seus pensamentos, outros dos seus sentimentos. Sofrimento inglório impossível de se combater.

De tanto bater o meu coração parou. Bateu vezes demais e eu nunca deixei de lhe exigir mais e mais. Cada paixão, cada expectativa, cada sonho levava-o ao limite de batidas. Depois a realidade batia à porta e obrigava-me a tropeçar e, por uns instantes, era-lhe permitido descanso. Até que num dia que se apoderou do meu calendário desde então, uma sobrecarga de emoções obrigou-o a parar. As coisas boas misturaram-se com as más e tudo deixou de fazer qualquer sentido. Ainda revejo e sinto o último batimento. Depois nada... E a brisa transformou os dias em semanas que cresceram para meses. Nada... Os elogios sabiam a areia. No peito nada se mexia. Os beijos faziam comichão no céu da boca. No peito nada se mexia. Os golpes por mais dolorosos e profundos que fossem eram mastigados como pastilha elástica e deitados fora antes de perderem o sabor. Mas no peito tudo permanecia no mais profundo silêncio. Até que surgiu a recarga eléctrica que parecia fraca demais para reanimar fosse o que fosse. De repente, gritaram-se palavras de amor. O corpo agitou-se na sua infinita dança de sedução. Ambos exigiram que aquele saco de sangue amorfo e ridículo renascesse. Uma batida de cada vez. O compasso de uma música sem fim à vista. E assim, o que jazia morto reergeu-se. Acordou, olhou em volta e apesar de não ter gostado do que viu, insistiu em continuar a sua música. Mas, como tudo o que regressa, voltou diferente do que quando partiu. Bate agora frágil, meio vazio e desconfiado. Mas bate... e vai batendo...

Numa fracção de segundo que durou uma vida, o meu coração parou. Até que se lembrou de que nasceu para bater e decidiu que só pararia quando não houvesse nada no mundo pelo qual valesse a pena cantar a sua melodia. Ainda há muitas conquistas e mágoas por comandar. Quando já nada mais houver para sentir, então aí terá chegado a hora do descanso merecido e duradoiro. Até lá... apenas viver. Batimentos ritmados... pulsações descompassadas... melodias excêntricas e incertas... até ao fim... até o último acorde vibrar... até a música deixar de ter história e as notas perderem o seu som...

terça-feira, 16 de junho de 2009

"Miss" Celophane...

... se ao menos eu soubesse cantar...

segunda-feira, 8 de junho de 2009

I'm in the mood for... (5)

And with the early dawn
Moving right along
I couldn't buy an eyeful of sleep
And in the aching night under satellites
I was not receivedBuilt with stolen parts
A telephone in my heart
Someone get me a priest
To put my mind to bed
This ringing in my head
Is this a cure or is this a disease

Nail in my hand
From my creator
You gave me life
Now show me how to live

And in the after birth
On the quiet earth
Let the stains remind you
You thought you made a man
You better think again
Before my role defines you

Nail in my hand
From my creator
You gave me life
Now show me how to live

And in your waiting hands
I will land
And roll out of my skin
And in your final hours
I will stand
Ready to begin

Nail in my hand
From my creator
You gave me life
Now show me how to live


"Show me how to live", by Audioslave

quarta-feira, 13 de maio de 2009

É só um desabafo... nada de especial!



Há muitos dias que não escrevo. As palavras amontuam-se no mais básico de mim, mas sempre que tento deixá-las fluir, sinto-me cansada e sem vontade. Gostaria de fugir de mim. Sei-me em mutação. Tenho medo daquilo que irá ficar quando este interminável processo de auto-destruição cesse. Todos mudamos. Faz parte de ser humano deixar que as horas nos moldem até àquilo que seremos no último dia das nossas vidas. Olho para trás e vejo o quanto mudei. É um processo que nunca pára. Ainda agora, sentada em frente do computador, sinto os pedaços básicos da minha alma a caírem como pele velha. Não sei se algum dia me irei reconstruir. Provavelmente não. Falta-me a esperança e acima de tudo, a vontade.

Falta qualquer coisa. Gostaria de poder apontar claramente o que me inibe de sentir a vida, mas sinceramente não sei. Fechei as portas e aos poucos vou fechando as janelas. A minha falta de capacidade para a artificialidade torna-me capaz de a ver com facilidade nos outros. A verdade é que ninguém se interessa. Vivemos numa constante parada de egocentrismo. São poucas as pessoas que realmente ouvem o que dizemos, e menos ainda aquelas que de facto se interessam. Talvez seja uma forma um pouco cínica de olhar quem nos rodeia, mas a solidão e o desprezo oferecem a capacidade de ver para além do convencional. Como se por detrás de cada acção fosse perfeitamente visível o gatilho. Experimentem ver. Aqueles que não tem a coragem de admitir as suas próprias incapacidades, seja por negação ou vergonha, refugiam-se no faz de conta. A principal característica de se estar na chamada “mó de baixo” é que tudo parece perder o brilho, como se vivêssemos debaixo de água. O que parecia fundamental deixa de o ser e é nessa altura que certas verdades se revelam. Felizmente ou infelizmente sempre consegui ver as pessoas bem demais, aquilo que se esconde por detrás do tal faz de conta. Como se por debaixo de cada expressão existissem legendas explicativas do seu significado. Pois tenho uma pergunta a fazer... por que é a maioria das pessoas é incapaz de ser humilde? Quando é que sobressairmos em relação aos outros se tornou uma vitória? Existe de tudo um pouco, desde manipulações declaradas até às pequenas feridas infligidas pela calada. Tudo serve para provocar uma qualquer relação, inveja, tristeza, o que for. Afinal, para que necessitamos de realçar o emprego que temos, o ordenado que recebemos, os sítios onde vamos, as pessoas que conhecemos, os “amigos” fantásticos que temos daqueles que se conheceram no dia anterior? Custa-me a entender o porquê de assim ser. É como se existisse uma eterna competição não declarada em que só pode haver um vencedor. Infelizmente, neste aspecto tenho de admitir que as mulheres jogam sujo, talvez em função das inseguranças que fazem parte de qualquer mulher. Por exemplo, já repararam que a amiga que afirma que está gorda o faz sempre em frente da amiga claramente mais gorda? Ridículo...

As pessoas dizem que sou “misteriosa”, que o pouco que sabem sobre mim e a minha vida é tirado com saca rolhas. Lamento se não preencho esse requisito, mas para mim a linha sempre foi muito subjectiva entre o partilhar e o empolar. Reconheço que a minha vida não tem interesse, assim sendo o que é há de tão extraordinário para contar? A verdade é que ninguém se interessa mas toda a gente quer saber. Com a maioria das pessoas é o caminho ideal para a presunção. Um constante valorizar daquilo que no fundo é banal. Sou a favor da partilha e da liberdade, desde que nenhuma das duas interfira negativamente na vida dos outros. Mas mete-me nojo a tendência para minimizar os outros. O jogo de crianças da pirraça e do toma toma. Eu fiz e tu não... Eu fui e tu não... Eu conheço e tu não... Será assim tão mau confessar-se uma derrota? A eterna caixinha. Se fugirmos um bocadinho ao convencional é porque existe algo de seriamente errado connosco. Se não tivermos um emprego de topo, ganharmos bem e vivermos aos pares, somos praticamente um ET. Se for possível realizarmos tudo isso somos alvo de inveja, se só alcançarmos uma parte somos normais, se estivermos na estaca zero em qualquer uma destas metas somos uns vencidos. Bem, assim sendo, talvez eu seja uma vencida, mas se assim for, prefiro sê-lo a viver no faz de conta. Prefiro admitir o meu sofrimento do que esfregar na cara dos outros uma fantasia de felicidade alinhavada. Recuso a sentir-me bem na minha pele se isso só for possível pisando a pele dos outros... talvez seja idealismo parvo, mas prefiro ser um ET do que ter a presunção de que sou muito especial... pois sim!

terça-feira, 3 de março de 2009

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

A Minha Dor

"A minha Dor é um convento ideal
Cheio de claustros, sombras, arcarias,
Aonde a pedra em convulsões sombrias
Tem linhas dum requinte escultural.

Os sinos têm dobres de agonias
Ao gemer, comovidos, o seu mal ...
E todos têm sons de funeral
Ao bater horas, no correr dos dias ...

A minha Dor é um convento. Há lírios
Dum roxo macerado de martírios,
Tão belos como nunca os viu alguém!

Nesse triste convento aonde eu moro,
Noites e dias rezo e grito e choro,
E ninguém ouve ... ninguém vê ... ninguém ..."

Florbela Espanca

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

...

Este fim de semana fui ver estes senhores...



Numa palavra... fabulástico :D

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

I'm in the mood for... (4)

Although you think I cope
My head is filled with hope
Of some place other than here

Although you think I smile
Inside all the while
I'm wondering about my destiny

I'm thinking about
All the things
I'd like to do in my life

I'm a dreamer
A distant dreamer
Dreaming for hope, from today

Even when you see me frown
My heart won't let me down
Because I know there's better things to come

And when life gets tough
I feel I've had enough
I hold on to a distant star

I'm thinking about
All the things
I'd like to do in my life

I'm a dreamer
A distant dreamer
Dreaming for hope from today

I'm a dreamer
A distant dreamer
Dreaming for hope from today

I'm a dreamer...


"Distant Dreamer", by Duffy


quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

A luz


Gostaria de poder afirmar convictamente “Ano novo, Vida nova”. Apesar da mudança de calendário nada significar para mim, após um 2008 verdadeiramente mau e depois de uma altura em que estive bem perto de não ver nascer 2009, foi-me difícil ignorar a data. Desde então que enveredei por uma luta diária e solitária para evitar deixar-me entregar a um sentimento de derrota que infelizmente conheço bem demais. Não sou especial e muito menos única. Sei que de uma forma ou doutra todos nós sofremos ao longo da nossa vida. Mas sei também que existem momentos na vida de cada um em que a dor é tão forte que bloqueia qualquer tentativa de auto-defesa. Sobra apenas o pânico e o vazio de se saber morto antes do tempo e enquanto o corpo ainda funciona. Seria efectivamente mais fácil culpar o mundo inteiro pela forma como me faz sentir. Poderia citar os nomes de todas as pessoas que de uma forma ou doutra contribuiram para aquilo que hoje sou, seja isso bom ou mau. Mas ao contrário de muitos nunca gostei de empurrar para cima dos outros uma culpa que no fundo me pertence. A minha batalha comigo mesma é já longa e sem fim à vista. Todas as desilusões que sofri foram causadas pela minha vontade de querer acreditar em mentiras que o coração reconhecia. Cada sonho desfez-se pela minha incapacidade de esquecer qualquer escrúpulo e lutar por ele como se não houvesse amanhã. Neste caso, o lugar comum aplica-se, no amor e na guerra vale tudo. Poderia dizer que se alguém me tratou como lixo, foi porque deixei, quis acreditar que teria de existir alguém neste mundo que fosse capaz de retribuir amor e alimentei-me de mentiras. Se no fundo as pessoas não gostam de mim, a culpa será minha porque não correspondo a um qualquer critério que de mim exigem.

Esta sou eu... no melhor e no pior. Não gosto de hipocrisia, falsidade e acima de tudo paternalismo. Tendo a ser leal demais mesmo que acabe a lutar contra mim mesma. Não me encanto com facilidade por isso quando o faço é para a vida. Custa-me sobreviver quando perco alguém, especialmente se me abandonam sem que nunca saiba porque o fizeram. Não sou optimista no que diz respeito a cada aspecto da minha vida mas acredito e defendo como ninguém a felicidade das pessoas de quem gosto. Sonho alto demais e acordo sempre no fundo de todas as escadas. No amor não gosto de meias medidas, para mim é tudo ou nada. Sou insegura, sinto sempre que vou meramente existindo na vida das pessoas até que encontrem alguém mais valioso pelo qual me trocarem. Sou intolerante com os intolerantes. Perdoo depressa demais mas nunca consigo esquecer. Odeio pessoas que se adoram a si próprias e vivem para ouvir o som da sua própria voz. Tenho medo de viver indefinadamente sem luz... Sempre quis encontrar o sítio onde pertenço, e finalmente entregar-me a uma paz de espírito que me foge. Poderia escrever tanta coisa... acho que me é mais fácil apontar os defeitos do que as qualidades se é que elas existem. Seja como for, tudo isto pouco interessa.

Hoje em dia não espero grande coisa dos meus dias. Acho que no fundo nunca esperei. Simplesmente concentro-me em dar um passo de cada vez para que o negro de onde vou saindo vagarosamente não me conquiste novamente. A solidão é a minha única e verdadeira companhia, aquela que caminha incansavelmente ao meu lado quer chore ou sorria. É a única coisa presente nos meus dias e será a última coisa que verei no meu último dia. Sei-o. Sabê-lo é a parte fácil, aceitá-lo é que é difícil.

Nem sei bem o porquê deste texto. Talvez por ter levado tanto tempo a voltar a escrever e a postar, nada poderia pôr aqui que não fosse o mais básico de mim. Inúmeras vezes tenho ponderado a ideia de encerrar este blog ou então lavar-lhe o rosto e os conteúdos, mas a minha decisão de momento é a de o manter. Para mim este espaço sempre foi uma espécie de caderno de recordações compartilhado com outros. Escrevo coisas boas e coisas más. Enveredo cruamente na minha realidade, outras vezes dedico-me à ficção. Partilho aquilo de que gosto. “Falo” sobre o que quero. O meu blog sempre foi uma pequena projecção de mim. Nunca criei este espaço com o intuito de “conquistar” seja quem for. Sei que é impossível agradar a toda a gente a toda a hora do dia, por isso limito-me a ser quem sou... Quem gosta, gosta, quem não gosta ponha à borda do prato. Por isso, a todos os resistentes que ainda por aqui navegam o meu muito obrigado pelo apoio e carinho :)... por enquanto vou mantendo-me por aqui... e com uma nova resolução de ano novo... encontrar simplesmente a minha luz ;)

Beijinhos a todos