Já algum tempo que não escrevo aqui nada. Olho em vão para estas linhas vazias há espera de uma inspiração que não vem. Quero escrever sobre esperança, sobre luz, sobre vida. Não consigo. Só me apetece gritar e desabafar sobre tudo o que me magoa. Quanto mais paro para pensar maior é a escuridão. Cada esquina desta casa assombrada esconde histórias que o rancor esborratou.
Estou cansada. Estou farta desta luta diária para que o peso da desilusão e do perpétuo sofrimento não enterre todo e qualquer vestígio de mim. Sinto-me desaparecer por entre as batidas deste relógio inclemente. Não gosto deste filme. Quero sair antes que o genérico final surja e mostre que a lista de intervenientes sempre foi curta e pouco clara. Abro os olhos mas o ecrã permanece negro. Não encontro diálogos que me distraiam. Talvez nunca cá tenha estado. Não tenho lugar no meu próprio filme.
Existe uma espécie de capacidade de visão desafogada que só surge quando deixamos para trás as convenções e as crenças mais básicas. Fui aprendendo que existe uma imensa distância entre aquilo que achamos ver e aquilo que realmente lá está. Muitas vezes esse “engano” é consciente, mas na maioria das vezes é meramente o produto de um desejo básico de sobrevivência. Uma recusa por vezes inglória de não nos afundarmos na mágoa.
Há quem me chame sonhadora e há quem me considere cínica. Se me pudesse identificar, crua e friamente diria que me sinto algures no meio. Fui-me tornando descrente das pessoas, até de algumas que me são mais próximas. Gostaria de ter a capacidade de ser superior a todo o sofrimento e poder recuperar de qualquer alfinetada dada, mas a verdade é que sou frágil demais e cada murro, cada traição destrói mais do que a minha confiança nos outros. Destrói-me a mim. Limpa a minha capacidade de visão e a realidade uma vez revelada nunca mais poderá ser eclipsada. A verdade é uma só. No fundo, ninguém se interessa.
Gostaria de poder continuar a acreditar em palavras carinhosas e certas manifestações de apoio, mas não consigo fingir que acredito quando a cortina abre precocemente e tudo é visível cedo demais. Na maioria das vezes, tudo não passa de chavões e, pior ainda, paternalismo. É triste ver nos olhos das pessoas de quem gostamos um certo regozijo nas nossas quedas. Felizmente, nem todas as pessoas são assim. Ainda existem aqueles que verdadeiramente se preocupam e apoiam, mas não sei quanto tempo aguentarão intactos, quando a maioria das pessoas que os rodeiam não passam de abutres sedentos para despedaçar as suas almas.
Infelizmente, sempre fui boa a ler as pessoas. Na maioria das vezes as suas motivações secretas e os seus sentimentos escondidos são para mim tão visíveis como os traços dos seus rostos. As suas vitórias são sempre mais relevantes que as dos outros. Os seus problemas são sempre gigantescos e graves comparados com os dos outros. Glorificação do patético. As roupas de marca. As festas famosas. Os “amigos” que se conheceram ontem. O eterno currículo empolado. O oportunismo frio. Serei realista demais ou existe mesmo quem se alimente de ilusões? Talvez não tenha a melhor abordagem à vida, mas recuso-me a minimizar quem me rodeia. Não me parece que as marcas que se vistam, os jantares a que se vá, o dinheiro que se ganhe, aquilo que se escreva, as quecas que se dêem, aquilo que digam de nós, nos torne uma pessoa melhor. Acho que a banalidade converteu-se em opiniões e comportamentos em segunda mão. Refeições e refeições de comida remastigada.
Odeio-me por me deixar enganar conscientemente. Desde o seu começo que eu sei como acaba a história. Cada vírgula de cada texto tem um significado escrito a sangue. Olho em volta mas não está ninguém. Não interessa o que diga ou faça... não interessa que ignore propositadamente que um dia me virarão as costas e esquecerão tudo o que vivemos em conjunto. As pessoas desaparecem... seguem os seus caminhos e deixam sempre alguém para trás. Não é possível encontrar alguém sem que antes se proceda a um abandono. Aparentemente, o “brinquedo novo” é sempre melhor do que o “brinquedo velho”, mesmo que este seja mais resistente.
Acredito que de todas as minhas desilusões, essas sejam aquelas que ainda hoje me marcam, talvez por ainda hoje ocorrerem. Os actores e o guião podem mudar, mas o resultado é essencialmente o mesmo. Por vezes obrigo-me a acreditar que cada nova vez será diferente. Abro as janelas para que a vida me prove errada. Quero acreditar... Mas a estrada nunca acaba e raramente muda e, por vezes cedo demais, alguém segue o seu caminho e desaparece por entre a névoa do futuro. E novamente a desilusão entranha-se e o desrespeito por se ter sido fraco para não acreditar naquilo que a mente sussurrava. Todos vão embora. Amigos de longa data, namorados de barriga cheia, conhecidos de dias especiais. Toda a gente se afasta. Nada mais existe para além do cliché... o invisível adeus e a eterna interrogação. Porquê? O que existe agora de tão insuportável que antes não incomodava? O que aconteceu de tão marcante entre o antes, o agora e o depois?
Não interessa quantas vezes acontece, dói sempre. Umas vezes mais, outras menos, mas a dor permanece e raramente se apaga. Só pessoas egoístas é que julgam que encher alguém de atenção e depois retirá-la sem qualquer explicação não magoa. Só alguém sem qualquer respeito pelos outros é que acredita que ignorar uma pessoa nos grandes eventos e só se lembrar nos momentos em que necessita não magoa. Só alguém egocêntrico é que deixa que abram um coração à sua frente e desaparece com todos os seus segredos, sem deixar o mínimo rasto.
Gostaria de me sentar aqui e afirmar que após tantos abandonos, as probabilidades disso acontecer são nulas, mas infelizmente enquanto o coração continuar a bater, este quererá sempre a atenção e o carinho de alguém que não tenha medo de ficar. Alguém que saiba que cada frase, cada gesto, cada acção conta. Até os loucos gostam de ser desejados. Até os loucos gostam de ser convidados. Até os loucos gostam de ser lembrados. Até os loucos sonham com alguém que os oiça... e os ajude a viver...
Estou cansada. Estou farta desta luta diária para que o peso da desilusão e do perpétuo sofrimento não enterre todo e qualquer vestígio de mim. Sinto-me desaparecer por entre as batidas deste relógio inclemente. Não gosto deste filme. Quero sair antes que o genérico final surja e mostre que a lista de intervenientes sempre foi curta e pouco clara. Abro os olhos mas o ecrã permanece negro. Não encontro diálogos que me distraiam. Talvez nunca cá tenha estado. Não tenho lugar no meu próprio filme.
Existe uma espécie de capacidade de visão desafogada que só surge quando deixamos para trás as convenções e as crenças mais básicas. Fui aprendendo que existe uma imensa distância entre aquilo que achamos ver e aquilo que realmente lá está. Muitas vezes esse “engano” é consciente, mas na maioria das vezes é meramente o produto de um desejo básico de sobrevivência. Uma recusa por vezes inglória de não nos afundarmos na mágoa.
Há quem me chame sonhadora e há quem me considere cínica. Se me pudesse identificar, crua e friamente diria que me sinto algures no meio. Fui-me tornando descrente das pessoas, até de algumas que me são mais próximas. Gostaria de ter a capacidade de ser superior a todo o sofrimento e poder recuperar de qualquer alfinetada dada, mas a verdade é que sou frágil demais e cada murro, cada traição destrói mais do que a minha confiança nos outros. Destrói-me a mim. Limpa a minha capacidade de visão e a realidade uma vez revelada nunca mais poderá ser eclipsada. A verdade é uma só. No fundo, ninguém se interessa.
Gostaria de poder continuar a acreditar em palavras carinhosas e certas manifestações de apoio, mas não consigo fingir que acredito quando a cortina abre precocemente e tudo é visível cedo demais. Na maioria das vezes, tudo não passa de chavões e, pior ainda, paternalismo. É triste ver nos olhos das pessoas de quem gostamos um certo regozijo nas nossas quedas. Felizmente, nem todas as pessoas são assim. Ainda existem aqueles que verdadeiramente se preocupam e apoiam, mas não sei quanto tempo aguentarão intactos, quando a maioria das pessoas que os rodeiam não passam de abutres sedentos para despedaçar as suas almas.
Infelizmente, sempre fui boa a ler as pessoas. Na maioria das vezes as suas motivações secretas e os seus sentimentos escondidos são para mim tão visíveis como os traços dos seus rostos. As suas vitórias são sempre mais relevantes que as dos outros. Os seus problemas são sempre gigantescos e graves comparados com os dos outros. Glorificação do patético. As roupas de marca. As festas famosas. Os “amigos” que se conheceram ontem. O eterno currículo empolado. O oportunismo frio. Serei realista demais ou existe mesmo quem se alimente de ilusões? Talvez não tenha a melhor abordagem à vida, mas recuso-me a minimizar quem me rodeia. Não me parece que as marcas que se vistam, os jantares a que se vá, o dinheiro que se ganhe, aquilo que se escreva, as quecas que se dêem, aquilo que digam de nós, nos torne uma pessoa melhor. Acho que a banalidade converteu-se em opiniões e comportamentos em segunda mão. Refeições e refeições de comida remastigada.
Odeio-me por me deixar enganar conscientemente. Desde o seu começo que eu sei como acaba a história. Cada vírgula de cada texto tem um significado escrito a sangue. Olho em volta mas não está ninguém. Não interessa o que diga ou faça... não interessa que ignore propositadamente que um dia me virarão as costas e esquecerão tudo o que vivemos em conjunto. As pessoas desaparecem... seguem os seus caminhos e deixam sempre alguém para trás. Não é possível encontrar alguém sem que antes se proceda a um abandono. Aparentemente, o “brinquedo novo” é sempre melhor do que o “brinquedo velho”, mesmo que este seja mais resistente.
Acredito que de todas as minhas desilusões, essas sejam aquelas que ainda hoje me marcam, talvez por ainda hoje ocorrerem. Os actores e o guião podem mudar, mas o resultado é essencialmente o mesmo. Por vezes obrigo-me a acreditar que cada nova vez será diferente. Abro as janelas para que a vida me prove errada. Quero acreditar... Mas a estrada nunca acaba e raramente muda e, por vezes cedo demais, alguém segue o seu caminho e desaparece por entre a névoa do futuro. E novamente a desilusão entranha-se e o desrespeito por se ter sido fraco para não acreditar naquilo que a mente sussurrava. Todos vão embora. Amigos de longa data, namorados de barriga cheia, conhecidos de dias especiais. Toda a gente se afasta. Nada mais existe para além do cliché... o invisível adeus e a eterna interrogação. Porquê? O que existe agora de tão insuportável que antes não incomodava? O que aconteceu de tão marcante entre o antes, o agora e o depois?
Não interessa quantas vezes acontece, dói sempre. Umas vezes mais, outras menos, mas a dor permanece e raramente se apaga. Só pessoas egoístas é que julgam que encher alguém de atenção e depois retirá-la sem qualquer explicação não magoa. Só alguém sem qualquer respeito pelos outros é que acredita que ignorar uma pessoa nos grandes eventos e só se lembrar nos momentos em que necessita não magoa. Só alguém egocêntrico é que deixa que abram um coração à sua frente e desaparece com todos os seus segredos, sem deixar o mínimo rasto.
Gostaria de me sentar aqui e afirmar que após tantos abandonos, as probabilidades disso acontecer são nulas, mas infelizmente enquanto o coração continuar a bater, este quererá sempre a atenção e o carinho de alguém que não tenha medo de ficar. Alguém que saiba que cada frase, cada gesto, cada acção conta. Até os loucos gostam de ser desejados. Até os loucos gostam de ser convidados. Até os loucos gostam de ser lembrados. Até os loucos sonham com alguém que os oiça... e os ajude a viver...
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