quarta-feira, 27 de agosto de 2008

A página em branco


A página em branco enche-se de palavras por dizer. Todo o espaço livre preenche-se com os desejos que se perderam por entre a tinta das inúmeras canetas que já por aqui passaram. Já tudo parece dito e aquilo que sobra, aquilo que ainda se revela só nosso, mostra-se pequeno e sem sentido. Gostaria de te dizer como me sinto, mas não acredito que o queiras saber. Chegaste, seduziste, conquistaste o que quer que necessitasses para seguir em frente, e partiste sem deixar uma palavra à qual me agarrar. Pilhaste os sentimentos que me restavam. Só sobrou pó… uma mão cheia de nada… Lenço de papel sujo deixado à beira da estrada. Beata deitada pela janela de um carro em movimento. A minha mente gritava para que não me deixasse envolver, mas tudo o resto chamava por ti. Despedacei a minha alma para te deixar entrar. E apaguei o mundo do meu horizonte. Continuo a ser eu. Cinza e osso numa roupa qualquer. Vazio camuflado com gargalhadas sem fim. Sentimentos perdidos como pele queimada pelo verão. De nada mais servem. Viver de um querer que nunca acaba e de um sofrimento que não se explica. Mas ninguém nota. Sou rascunho de mim mesma. Letras perdidas em palavras que ninguém lê.

Sento-me à beira mar e o vento brinca com a minha pele. Olho para o mar e espero dele respostas que contrariem as certezas que se cimentaram por entre veias que ainda vibram. Sou uma boa ouvinte. Sempre o fui. Conheço muitos sonhos e visões de futuro alheios. E, por momentos, volto a acreditar. Deixo-me viver em segunda mão. Alimento-me de vitórias alheias que não me pertencem. A alegria daqueles que amo mantém-me de pé. Sei que no fundo tudo depende de nós, não só de quem somos como das pessoas que deixamos entrar nas nossas vidas. O esconderijo mágico. O dia D. Aquele dia em que os olhos se abrem e subitamente o modo como os outros nos vêem surge limpo de toda a sujidade que a convenção traz pela mão. O ecrã ilumina-se e o filme começa. Não interessa que oiças. Não interessa que te interesses. Não interessa que estejas sempre ao lado ano após ano. Quando todo o teu ser é composto por moléculas incapazes de cultivar amor, toda a verdade se revela. Não existe amor algum que te possa abraçar. As más escolhas são bagagens vitalícias.

Sempre fui uma apaixonada pelas pequenas coisas. Os pequenos gestos. Nas acções reside toda a verdade. As palavras perdem-se por entre as curvas do caminho, mas as acções relevam tudo aquilo que o silêncio insiste em esconder. Os sinais misturam-se. O preto perde-se no branco e do cinzento nascem incertezas e confusão. De que servem prendas de Natal caras quando o aniversário é sistematicamente esquecido? De que serve pavonearem fortunas quando nem um café oferecem? De que servem listas intermináveis de amigos se se recusam a apresentá-los? De que serve lutar contra a distância se nunca nos deixam entrar nas suas vidas? De que servem conselhos se mais não fazem do que apresentar currículo? De que servem mensagens de apoio quando as nossas oportunidades de futuro são propositadamente sabotadas? De que servem os grandes elogios se o nosso nome é criteriosamente omitido de ouvidos interessados? De que servem sorrisos matreiros se os abraços sinceros há muito que foram arrumados em gavetas profundas? De que servem que nos digam que gostam de nós se somos facilmente esquecidos? Às vezes acho que é melhor assim. Sei que custa admitir o prazer que a tristeza alheia dá a quem dela não sofre. Mas ele está lá, naquele cantinho nosso onde podemos ser sinceros. Não há vencedores ou vencidos, apenas vida e morte… luz e negrume. Sou uma carta de aviso. Caminho sem saída. Daqui para a frente, só terra batida. Sempre fui última escolha, em tudo. Talvez tudo seja apenas loucura, mas acho que não há auto-estima que sobreviva a tanta realidade. Comer, sorrir, brincar, e contar horas intermináveis. Tudo o resto parou. Caixa vazia e sem utilidade. Fósforo queimado sem réstias de calor.

Tento convencer-me de que tudo é passageiro. Quero desnudar a minha alma por inteiro até nada mais haver para esconder… até que o último espinho desapareça por entre o calor que invade o corpo. Quero viver em pleno. Quero redescobrir o amor e saber que me é dado por direito. Quero sonhar acordada e acreditar no futuro. Quero ser quem nunca fui e deixar de me preocupar com tudo o resto. Quero sobreviver ao fundo do poço e saber que a partir desse momento nada mais me atirará de volta às trincheiras. Quero acordar inteira e encher todas as páginas brancas da minha vida com frases verdadeiras e palavras que só o coração reconheça.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Florença pelos meus olhos... parte 1

... sei que não são maravilhosas, mas tenham paciência... a fotógrafa é rasca :P








segunda-feira, 11 de agosto de 2008

domingo, 3 de agosto de 2008

De partida...

Estou de partida... viro costas a este mundo sem graça que respiro diariamente... durante uma semana tentarei viver noutro e procurar-me por entre as frinchas de sonhos adiados...

Parto para Florença... infelizmente não por tanto tempo quanto gostaria mas que espero seja suficiente para voltar a acreditar... quero lavar a minha alma, deixar desfazerem-se todos os detritos de mim que a destroem... quero reaprender a respirar...

Espero voltar com o coração mais leve e frases novas para escrever... para que a minha história não se fique para sempre pelo mesmo adjectivo... Então, até ao meu regresso :)

Beijinhos a todos