quinta-feira, 25 de outubro de 2007

terça-feira, 16 de outubro de 2007

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Momentos...


“A calma acabou. Foi curta e precária. Deixou-me entregue às garras de uma tristeza e melancolia que não sei combater. Não era assim. Perdi-me. Separei-me de mim e a luz dos sonhos apagou-se para sempre.

A doce tortura da ilusão é a única coisa que me sustenta. Entrego-me a momentos que sei não passarem de fantasias. A minha vida inteira foi assim. Imaginar o impossível. Amar quem não quer ou não pode corresponder. Traí-me. Decidi ignorar a voz que me alertava sempre que entrava no teu jogo. Deixei-me levar por olhares intensos e frases com duplos sentidos. Alimentei o teu flirt cada vez mais provocador. As insinuações mantinham-me viva. Bastou-te pedir e fui tua. O inocente brinquedo com o qual te permitias esquecer a vida pequena e arrumadinha que te obrigam a viver. Comigo voltaste a ter 20 anos e a estar longe de todas as responsabilidades que os anos te ofereceram. Esqueceste-te que por detrás deste corpo que conheceste tão bem sempre existiu um ser humano. Existe uma mulher. Jovem mas não menos mulher por isso. Uma mulher que não te queria partilhar… uma mulher que só te pediu uma coisa… a única que te era proibida dar… Amar-me não fazia parte dos teus planos. Que tolice a minha! Nunca ninguém o fez antes, porque haverias de ser diferente? És igual aos outros. És um cliché ambulante com sentimentos padronizados e pensamentos remastigados. Sou demais para ti. Assusto-te. Ainda bem.

Especializei-me em olhar para paredes e tectos. O olhar prende-se em pontos específicos que mais tarde não sei identificar. Só pestanejo quando as lágrimas me pesam nos olhos. Nas paredes brancas da minha casa vejo imagens de uma vida que não terei. Uma vida em que o prazer das pequenas coisas me devolve a felicidade perdida. Tento olhar em frente, mas não vejo nada. Talvez seja por isso que sou incapaz de fazer planos para o futuro… que futuro?

Estou cansada. Cansada… cansada de sonhar com tudo e não ter nada… Quando me dizem: “Tu és um diamante que ainda ninguém descobriu”, dá-me vontade de gritar. Eu não quero ser o diamante escondido numa gaveta para sempre, quero ser a bugiganga da qual jamais nos separamos e que amamos mais do que qualquer jóia verdadeira.

Cada olhar, cada gesto de ternura, cada sensação que me foi oferecida e depois roubada, foi-me deixando vazia. Estou oca de tudo menos do amor que temo não oferecer a mais ninguém. Se ninguém o quer, que morra comigo. Já não me interessa.

Apetece-me rasgar todas as fotografias, mas só as minhas. Odeio ver-me sorrir como se o mundo permanecesse dourado. As fotos de infância… essas têm o condão de me sufocarem. Aquela não sou eu e de cada vez que olho para essas imagens, pergunto-me o quanto me terei desviado do caminho…

Sento-me para escrever mas nada sai. A dor desliga-me o cérebro e paralisa-me os dedos. Curioso. Sempre ouvi dizer que é quando o sofrimento é maior que escrevemos melhor. Mas nada sai. Lembro-me do primeiro rapaz que beijei e nunca mais vi. Mas nada sai. Lembro-me das inúmeras brigas que tive com o meu primo. Mas nada sai. Lembro-me de quando parti a cabeça e levei pontos a sangue frio. Mas nada sai. Lembro-me do meu primeiro amor e do dia em que pediu para falarmos a sós… para me pedir que o ajudasse a conquistar a minha melhor amiga. Mas nada sai. Lembro-me da morte da minha avó e da última vez que a vi. Mas nada sai. Lembro-me da última vez que julguei estar apaixonada e do quanto escolhi mal. Mas nada sai. Lembro-me dos dolorosos anos de faculdade e dos pedaços de alma que me roubaram. Mas nada sai. Lembro-me de todas as oportunidades que perdi. Mas nada sai. Lembro-me de ti. E nada sai. Nada nunca sai. Tudo é murmúrio e confusão. Certezas de coisa alguma. Apenas pequenos fragmentos de luz que assim que os tento agarrar se afastam de mim, deixando-me numa escuridão que só eu vejo. Tenho medo de me entregar a isto para sempre. Tenho medo de deixar de distinguir a luz da escuridão. A amizade da falsidade. O amor da pena. A felicidade da dor.

Mas tal como o vento que sopra a cada dia de uma nova direcção, quem sabe a minha calma regresse amanhã… até novo dia.”